quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Outra imagem

09 de novembro
Antes de estar na África só conseguia enxergar o continente de acordo com o que a televisão me apresentava, ou queria apresentar. Engraçado que savanas, montanhas, animais de grande porte e em grande quantidade, corredores imbatíveis, grandes Tubarões Brancos na África do Sul e outras “cositas mais”,  sempre fizeram parte do meu imaginário preconcebido sobre esse lugar. Lógico que não conheço nada da África ainda, mas já tenho outra leitura.
Nesse momento, por exemplo, tem um corvo fazendo muito barulho no telhado. O som que ele emite parece de um pato, só que mais alongado, como um grito. Isso, por exemplo, não imaginava que é muito comum aqui na África. Também não imaginava que o corvo poderia ter o peito branco. Parece estar vestindo uma camiseta. Para mim ele era todo preto. Graças ao Dr. Google, descobri que esse daqui é o Corvo-malhado, corvus albus. Mais uma para o Guia de nomes científicos do Dr. Roberto, meu pai!!!!  
Um dos meus vizinhos!
Preconceito é o fim! Visão preconcebida só atrapalha. E o pior é que tem gente que adora fazer terrorismo, sem nenhuma justificativa. Aí você vem achando que encontará uma coisa, mas quando chega vê que não era bem assim.
Dizem que homem prevenido vale por dois. Mas não tinha nenhuma necessidade de trazer do Brasil uma quantidade absurda de creme dental, sabonete, shampoo, desodorante... pode até ser que você aqui não encontre a marca que gosta de usar. Só que se encontra muita coisa, quase tudo. Existe uma rede de supermercados chamada Nosso Super, que foi administrado pela Odebrecht até pouco tempo. Está bem servida.  Se em Mbanza Kongo tem uma loja dessas, imaginem nas cidades mais próximas de Luanda, nos outros centros....
Outra coisa é o mito do mosquito. Que terrorismo!!!! Ok, em Luanda é insuportável. Mas em minha cidade não tem. Em Luanda usei repelente o tempo todo. Tem tempo que não vejo meus repelentes.... desde que cheguei ao Zaire. A mosca Tse Tse, que já comentei em outra ocasião, também não vi. E nem quero.
Agora uma coisa eu já tinha visto na TV e aqui verifiquei que é muito mais forte do que imaginava – o uso da capulana pelas angolanas. Em um outro post falei que levaria uns panos coloridos para Cissa. Pois esses panos são as capulanas. A mulher de Angola tem uma habilidade incrível para adaptar a capulana aos mais variados usos. Serve para vestir como saia ou vestido. Serve para fazer arranjos de cabeça muito bonitos. Viram embrulhos para carregar coisas. Mas o mais incrível é ver os bebês dormindo nas costas das suas mães, amarrados pela capulana. Essa imagem não sai da minha cabeça.
O bebê-mochila!

Essa capulana tem sonífero!
Tem outra imagem forte. Sem estar aqui você nem imagina que aconteça. Não passa na TV. Todo dia, quando vou e volto para o trabalho, vejo muitas crianças pequenas andando juntas carregando cadeirinhas plásticas. Perguntei o que era e a resposta foi chocante – "estão a ir para a escola!" A cicatriz da guerra está sarando, mas tudo na vida é prioridade. Infelizmente elas não são prioridade. O foco é capacitar técnicos, ampliar a oferta de profissionais. Foram 35 anos perdidos. E a economia cresce a 10% ao ano. O país não pode deixar de surfar essa onda de crescimento. E as crianças precisam levar suas cadeiras, na escola não tem!!!!!!!

Só que o governo está errando. A médio prazo. As crianças de Angola deveriam ter atenção especial. Ou se muda isso, ou terão mais gerações perdidas. O país avança, muitas construções e reconstruções. Mas a educação na base tem falhas graves.
Cissa comentava que eu ainda não falei no blog do meu melhor amigo, meu compadre Beto. O momento dele como personagem principal já está todo desenhado na minha cabeça! Fará parte de um capítulo que se chamará “Lendas”. E quem conhece sabe que Cachorro é uma delas, cheio de histórias alegres. Outras até muito tristes. Mas a lenda está viva, graças a Deus! Abraço meu parceiro! Estamos juntos!
O Bahêa ganhou mais uma fora de casa e a possibilidade de acesso já no sábado é grande. Um passo de cada vez. Êta que Rick tá nas nuvens!!!! Meu sogro, o velho Clarindo e meu cunhado, Carlinhos devem estar com o coração na boca. Cuidado com essas emoções aí, por favor! Ontem fiquei até o final do jogo no MSN torcendo junto com Rick. Só tenho como acompanhar no site de A Tarde, lance a lance. A internet não permite ouvir a rádio online.... muito lenta!!!! Minha bandeira será devidamente colocada na fachada do hotel sábado! Como diz o presidente, "nunca na história desse país uma bandeira do Bahêa foi hasteada em Mbanza Kongo!" 

7 comentários:

  1. É Heitor, preconceito e visão preconcebida, são males que só atrapalham a evolução da humanidade. É preciso se trabalhar diariamente para se livrar desses males, é um exercício árduo, mas dá pra fazer!
    Pôxa, levar a cadeira para a escola. E ainda tem gente por aqui que diz que tá sem saco... Durma com um barulho desse!!!!

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  2. Bacana Heitor: realmente são muitas imagens da África que através do seu blog estão sendo apuradas e modificadas. Você é a pessoa mais próxima da minha realidade que já esteve na África e os seus depoimentos são de grande credibilidade justamente por nos conhecermos.

    Essa do suprimento de produtos para higiene pessoal mesmo é uma ação que acredito que muitos iriam repetir por ficar na dúvida se ia ser fácil encontrar. E a capulana então, é um estrangeirismo desconhecido por aqui e que você adicionou ao vocabulário (ou ao repertório mental pelo menos) de muita gente.

    Boa sorte aí irmão, sucesso no projeto e obrigado por compartilhar.

    abs,

    André Boavistta

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  3. Já fui vítima dessa sensação (de preconceito)! Aqui mesmo na Bahia quando falo que vim do Acre, algumas pessoas perguntam se lá ainda tem onças e índios por entre nós, nas ruas, quintais e, pasme!, em nossa casa! É normal dizerem: "nossa, como é longe!" E eu respondo: "A distância é a mesma de lá pra cá! Aqui também é longe!" Não posso negar que em outras épocas vivíamos isolados, devido à falta de voos regulares e estradas de ligação com o resto do País. Mas isso é passado, embora até hoje muitos brasileiros não conheçam os Estados da Região Norte! Mas é isso... by the way, agora sou mais Bahia do que nunca e já estou com meu ingresso na mão! Sábado Pituaçu será pequeno para a massa tricolor que estará lá para empurrar o time para a primeira divisão! Vamos lá! Forte abraço!

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  4. O preconceito antes de mais nada, e principalmente é uma mentira; o problema é que são tantos os preconceitos e as mentiras que por muitas vezes nos deixamos envolver por eles.
    Segundo Goebels, secretário de relações públicas do Reich Nazista e assessor político de Hitler, uma mentira contada várias vezes acaba se transformando em verdade. Essa era a base da política de divulgação dos fatos no Império Nazista.
    Meu amigo, muito sucesso e sorte no continente Africano. Gostaria de saber das minas terrestres, se já foram desativadas, se ainda são utilizadas, se você teve algum contato com os mutilados desta guerra étnica absurda e miserável. Abração, Giovanni Barbosa.

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  5. hauahauahaua, nunca na história desse país é a frase da década.

    Quanto aos meninos levando cadeira para a escola, sem comentários. Fique tranquilo, tia Dilma disse que estamos bem na educação.

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  6. MILAGRE TRICOLOR!

    Não é um comentário sobre o post, mas vale, é sobre o Baêa!

    Hj fui comprar o ingresso para presenciar o acesso à série A no sábado e encontrei um mar de pessoas em Pituaçú, multidão, parecia dia de jogo!
    Já perto de chegar ao guichê, me chega um mudinho pedindo pra comprar o dele. Nem eu nem os demais aceitamos (não depois 2hs de sol a pino no lombo!)
    O curioso é que ele tentou em outros lugares até que um guarda o "panhou" e quis arrastar... Foi quando para a surpresa geral o mudinho desatou a falar...!
    Imediatamente foi xingado por muitos pela sua cara-de-pau, mas não faltou quem levasse na esportiva e gritasse: MILAGRE! MILAGRE TRICOLOR!!!

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  7. Escola não dá voto, né?
    Infra estrutura é sempre melhor pra desviar verba.
    Entra ano e sai ano e as burrices continuam as mesmas. Pense numa raça burra essa nossa!

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