quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Lendas, parte I

11 de novembro
Hoje é feriado nacional, Independência de Angola. 35 anos de emancipação.
Não vou escrever sobre Angola. Diretamente não. Quero criar uma polêmica, e vou usar como personagem meu “cumpadi” e melhor amigo, Beto Cachorro.
De origem humilde, para mim sua família sempre serviu como exemplo. De resistência, de luta. Eles são a prova de que o bem sempre vence. Beto e os irmãos perderam o pai muito cedo. Dona Valquíria criou 6 filhos com muita batalha e trabalho, uma mulher de fibra. Todos gente muito boa. Dois já nos deixaram, Márcia e Davi. Ficaram quatro – Zé André, Alemão, Hélio e Beto. Alemão, ainda vou falar em outra oportunidade sobre essa figura, meu amigo Ndundo.
Beto é meu amigo de infância. Crescemos juntos, em momentos estávamos mais próximos, em outros nos afastávamos. Mas temos muitas afinidades e elas sempre se encarregaram de nos unir. Aprendemos a surfar juntos nas ressacas e marés de março na Cidade Baixa. O surf continua nos unindo mesmo depois de tantos anos e quilos a mais, principalmente os dele!!!!! Está nas nossas almas. Uma das coisas mais prazerosas para mim é ir surfar com quem eu gosto. A resenha dentro d´água é diferente!
Sempre gostei muito de cavalos. Beto também. Heranças de família. A dele é toda da região de Serrinha, a capital da vaquejada. Nossa, perdi as contas das festas de gado que fui com Beto. Fizemos muita farra, viajamos muito. Surfamos até ficar mole. Vivemos muito juntos. E essa convivência fez Beto me conhecer como poucos. E eu a ele.
Existe algo superior entre nós. Incrível isso. Certa vez, em um domingo, estava em casa no início da noite, aquela moleza, não tinha programado nada. Iríamos ficar em casa. Henrique era um pivetinho ainda, curtia ir na casa dos avós no Bonfim. Chamei Cissa para irmos lá, ela não topou, estava cansada. Alguma coisa dizia que eu precisava ir. E fomos, eu e Henrique. Quando ia chegando, por instinto liguei para Beto. Ele tinha acabado de ser atropelado quando saia de moto da casa de Elane. Um carro todo apagado, na contramão pegou ele de frente. Estava no pronto-socorro de Roma. Alguém levou ele até lá. Larguei Henrique com meus pais e corri para lá.
Ele tinha tomado umas cervejinhas, é verdade. Também vinha sem capacete, de bermuda e chinelo. Segurança zero. Irresponsável!!!! Como sempre teve moto e é um capoeira cheio de manha, Beto escapuliu salvando o corpo da porrada e deixando a moto bater. Só que errou por pouco no cálculo. Sobrou para o pé, que bateu e quebrou o farol do carro. O resultado foi um corte muito profundo e algumas raladuras.
Para variar, o posto médico não tinha material. Coloquei ele no carro e seguimos para o Santa Isabel. Era a opção mais próxima indicada pelo plano de saúde. Sangue, muito sangue. O tapete do meu carro ficou lavado. Ele preocupado com o carro e eu preocupado com anestesia que ele iria tomar, ou não, já que tinha usado álcool.
Quem conhece a peça, sabe que é muito difícil ver Beto falar sério. Nesse dia, eu presenciei ele falar mais ou menos sério. Ele disse: “Colega, vou falar duas coisas para você agora. Pode anotar aí: Primeiro, nunca mais subo numa moto. Segundo, nunca mais eu bebo.”  Aquela foi a última moto dele, realmente. Mas Beto não parou de beber! Ele adora! Hahahahaah. Tá liberado irmão, o acidente não foi por causa da cerveja!
Temos algumas divergências que não chegam a comprometer a nossa amizade. Beto é Vitória, eu sou Bahia. Beto é apaixonado por capoeira, eu gosto de Jiu Jitsu. Aliás, Cachorro é o seu nome de guerra da capoeira.
Várias vezes aconteceu de estarmos em algum local, em alguma vaquejada e quando ouvia um toque de berimbau, Beto parava tudo. E dizia: “eu vou aqui”. Tirava botas e esporas e ia para a roda jogar! Isso sem contar quando sumia sem avisar. Nem me preocupava mais. Quando o povo perguntava por ele eu dizia: “Pode procurar na roda de capoeira. Ele tá lá!” Beto diz que o som do berimbau é mágico, que ele não consegue controlar o impulso e tem que ir jogar. E joga bonito, joga com alma.  
Pois é amigo, eu usei você como personagem para tentar entender e explicar mais uma coisa. Pensei que aqui iria encontrar capoeira. Você pode saber muito, é formado, quase contra-mestre. Mas eu sou curioso. Esperava encontrar algo diferente ou interessante pelo menos sobre a capoeira-angola, manhosa, cheia de mandinga, quase no chão, lenta, perigosa. Queria poder tirar uma onda com você, por ter vindo no berço da sua capoeira. Que nada!!!!! É tudo lenda parceiro! Se tem não vi. E pelo que pesquisei, quem comanda a capoeira em Angola é a galera da Bahia. Abadá Capoeira, Mestre Camisa, do grupo de Henrique, meu filho! Vê se pode?
A capoeira nasceu foi na Bahia! Pode até ser cria dos escravos, mas não é angolana, é brasileira, baiana. Nasceu nos quilombos, da resistência. A mesma que fez de você um cara do bem. Guerreiro. Vitorioso. Salve!
Beto é casado com Elane e eles têm uma filha, Luiza, nossa afilhada que ainda não batizamos. Hoje moram em Maceió. E nos nossos corações.

6 comentários:

  1. Cunhado, como é bom ter uma amizade assim... eterna!
    Porra!!!! acho que vou conseguir postar!!!!

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  2. Beto cachorro não existe!!!! São muitas histórias, mas não posso deixar de lembrar duas:
    Um dia na fazenda Pau D'arco, ele tomou "todas" e ficou escutando a música "pão de mel" de Zezé di Camargo e Luciano até o dia amanhecer. Ninguém conseguia dormir, ele cantava e chorava. Ah, lógico que o único que agüentou essa cachaça foi Rogério (vaqueiro), o fiel escudeiro de Beto!
    E a mochila de viagem dele? Foi o modelo mais prático que conheci até hoje. No tempo que ele era TOTALMENTE perdido, ainda não tinha conhecido Elane (que Santa), toda vez que a gente ia viajar, independente do lugar ou do tempo que íamos passar fora, a mochila dele era um saco de mercado com uma única peça de roupa dentro!!
    Para contar as histórias de Beto teria que ter um blog só para ele. A cidade de Pojuca bem sabe quem é Beto cachorro.

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  3. Convivi pouco com ele mas realmente deu pra perceber a figuraça que ele é..mas que a capoeira de Angola é uma lenda..É frustrante, pra não dizer "broxante"

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  4. Kkkkkkkk... lembro dessa "mochila". E das Catuabas na Fazenda.
    Ah! Cissa me ensinou a postar!

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  5. Na verdade desde que conheci o Beto , e foi no mesmo dia que te conheci Heitor, tive a certeza que vc eram do bem.Gosto de voces de verdade !!!
    Beijão Cunhado !

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