segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Carnaval, o Mito da Pegação


Durante um bom tempo dei aula no curso de turismo. Gostava muito de atuar nessa área, tinha colegas que hoje se transformaram em amigos e deu para construir um network profissional bem amplo. Era tão envolvido nesse ambiente, que a minha dissertação do mestrado foi sobre estratégias de marketing turístico.

Uma das coisas que sempre ouvi dos professores do curso, principalmente os turismólogos, foi que a Bahia sempre se vendeu de forma equivocada para o mercado consumidor. O marketing da Bahiatursa do início dos anos 2000 vivia tentando corrigir uma imagem construída pelas gestões mais antigas, um conceito equivocado, de que na Bahia se pratica, prioritariamente, o chamado turismo "sol e bunda". Tinha uma professora, que viajava "sério" nas análises semióticas e via sexo em todas as campanhas publicitárias dos órgãos de turismo e outros players desse segmento. Mesmo que estivesse escondido, até na forma subliminar, ela encontrava sacanagem nas campanhas. Me divertia muito com as interpretações. Ela dizia que precisávamos desconstruir o Mito da Pegação - aqui pode tudo, principalmente durante a festa da carne...

Ouvi um ex-comandante da Bahiatursa dizer em uma palestra que o perfil do turista desejado não é o daquele estrangeiro que vem em busca de farra barata e sexo fácil. Esse turista deixa muito pouco em termos monetários, além de banalizar, marginalizar. Perfeito! É muito melhor ter um turista elitizado, que venha por exemplo, fazer pesca oceânica, alugar lanchas e contratar guias de pesca especializados, pagando preços elevados para usufruir dessas preciosidades. Ou então aquele que vem em busca da cultura, da história, da religião, que procura mergulhar nas vivências baianas. Esses são interessantes na ótica mercadológica. 

Pois bem, nos últimos anos temos visto campanhas sistemáticas de combate ao turismo sexual, sobretudo  aquelas que buscam acabar com a exploração infantil. Vi esforços para vender a Bahia como um destino turístico multifacetado, com opções de montanha, aventura, lazer, cultura, religião. Tiros certeiros! E isso é bem bacana, temos realmente muitas possibilidades de segmentação. Aliás, sempre digo que o turismo é um excelente exemplo de segmentos de mercado. 

Mas não adianta de nada se esforçar para valorizar algo, se tem gente que não tem compromisso com o que fica para a nossa terra, para a nossa gente. Vi o outdoor que faz parte da campanha do Camarote Planeta Othon em parceria com a Band, e fiquei retado. Ok, as Panicats são esculturas. Ok, o camarote é muito bem estruturado. Mas não era preciso apelar. É por essas e muitas outras que o Mito da Pegação ainda vive! E para aqueles que não podem pagar pelo luxo do camarote, talvez reste o turismo sexual e o abuso às crianças e adolescentes. Um tiro no pé, uma bola fora. Que lixo de comunicação...


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