segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Pausa

Como já cheguei no Brasil, derei um tempo no blog e só volto a escrever quando retornar para Angola.

mode#pause.......

Beijo grande, mais tarde vou comer um acarajé.....

sábado, 11 de dezembro de 2010

Mercado do Benfica

Alguém sabe onde fica um mercado que tem nome português, aparência de um centro comercial persa, aceita outras moedas e coisas como moeda? Fica aqui em Angola, é o Mercado do Benfica.     
O processo de retorno para o Brasil é longo. Pela distância, pelas dificuldades de logística. Chegamos em Luanda e aproveitamos a tarde para visitar o Mercado do Benfica, um centro de artesanato bem legal.
Feiras de artesanato são sempre muito parecidas. Só que rondando por aqueles corredores, vi que o Benfica tem algumas particularidades. Primeiro pela estética das peças. Na moral, é muito legal! Fiche mesmo! Cada peça daquela tem significado, tem história. Máscaras, pensadores, animais. Gostei muito!!!
Outra coisa que me chamou a atenção é o tratamento diferenciado com brasileiros. Óbvio que existe assédio, mas longe de ser daquele jeito que é feito no Mercado Modelo ou Igreja do Bonfim. E o brasileiro aqui é irmão, parceiro.
Só que a minha maior alegria foi perceber que o manto sagrado do Tricolor de Aço é conhecido e valorizado!!!! Recebi várias propostas para trocar minha camisa do Bahia. Todo mundo queria! Os angolanos adoram futebol, adoram colorido. E quando viram o selo de produto licenciado ficavam eufóricos, já que a pirataria não é privilégio apenas do nosso país. Recebi também várias encomendas de “camisolas de equipas” brasileiras e já vi que se voltar lá a moeda pode ser essa.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Quem foi Naninha?!

Discutia umas coisas com Rick a pouco no msn e ele me perguntou porque eu não escrevia sobre aquela nossa reflexão no blog. Aceitei a sugestão do meu filho.   
Vamos lá..... Nossas aulas de Jiu Jitsu em Angola surgiram através de uma proposta de extensão, aberta para alunos, funcionários, comunidade.
Jiu Jitsu se pratica com kimonos, mas existe uma outra possibilidade de treino chamada “No Gi”, ou seja sem kimono. O nosso treino aqui é “No Gi”, não para tirar onda, e sim porque não temos kimonos! A galera não tem cultura de arte marcial, nem grana para comprar kimono, e nem se acha para comprar por aqui! Eu não vi...
Pois bem, hoje, depois do treino, que por sinal só faz encher, cada dia aparece mais gente, um aluno perguntou quando eu iria e voltava do Brasil. Respondi. E ele me perguntou se eu poderia trazer um par de sandálias Havaianas para ele. Da original. Made in Brazil. A da bandeirinha. Aqui só tem réplica, e “muito da vagabunda”. “Mas professor, tem que ter escrito, fabricada no Brasil”.
Disse a ele que trarei. Claro que trarei! Aliás, naquele momento decidi trazer vários pares. Mas aquele pedido me fez viajar longe, muito longe. Me tocou profundamente.
Primeiro foi a questão da riqueza, dos valores mesmo. Perdemos tanto tempo das nossas vidas atrás de coisas fúteis. Vivemos correndo atrás de dinheiro. De artigos de luxo. De um monte de coisas que achamos que irão nos completar, nos fazer felizes. E nem sempre isso é verdade. Enquanto isso, na Sala de Justiça, um garoto angolano, que não tem um kimono prá treinar, com certeza deve ter muito pouca coisa até para comer e para vestir, quer sandálias Havaianas.  
Isso é uma chacoalhada nas crenças de quem coloca sempre o dinheiro em primeiro lugar. Reforço o que já disse no blog – eu aprendi muito mais do que ensinei aqui na África. Não tem nem graça essa comparação.
Portanto senhoras e senhores, se vocês andam “pilhados” atrás do Real, parem e pensem bem. Dinheiro é ótimo, ajuda e muito. Mas o que você realmente está fazendo pela sua felicidade?  Tem ajudado ao próximo? Tem pensado no meio ambiente? Tem dado exemplo? Tem feito o bem?
Depois entrei em outro processo, o mercadológico. Vejam a força e a amplitude que pode ter essa marca. Quem foi naninha?! Uma simples sandália de borracha. Virou marca desejada, copiada. Ganhou o mundo. Encanta e virou símbolo de status.  É um case de sucesso de marketing. Reposicionamento monstruoso. Comento sempre com os alunos sobre essa história de sucesso.
Só que não imaginava que justamente um pedido de sandália Havaianas iria me derrubar. Ou já que estamos em clima de tatame, me finalizar.
Ossssssss

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Mais um sobre mercado

 Já faz um tempo que estou para escrever mais um post sobre o mercado local e suas características específicas. Faltavam as fotos, mas agora foi.
MBanza Kongo tem dois postos de gasolina. Aqui eles chamam de bombas. É muito comum  não ter combustível por períodos longos. Da última vez ficaram 15 dias sem combustível para vender. Aí os caras colocam cones nas entradas dos postos e quando você pergunta se já chegou gasolina eles respondem “ainda”. Ainda aqui é uma forma de negar. Usam como usamos o nosso “aonde?”. Passei um tempo para entender e me acostumar com  o “ainda”.
Quando um produto falta no mercado é natural que o seu preço suba. Exercício do óbvio. Lei da oferta e da procura. E aqui o óbvio se processa de outra forma: câmbio negro. Falta produto no posto, sobra no paralelo. Aqui não falta combustível vendido na rua, em garrafas pets de 2 litros, ou você pode também levar o seu “bidon” (vasilhames maiores). Você teria coragem de abastecer o seu carro no mercado paralelo de Mbanza Kongo????
Gasolina e diesel em garrafas pet e bombonas


Mais um posto de gasolina, vizinho da filial da Centauro!
Vi em uma matéria da TV local que mais de 90% dos celulares de Angola são pré-pagos. Telemovel aqui só no saldo! Até aí, tudo bem. O país é pobre, necessidades básicas ainda por serem atendidas. Seria difícil ter celular pós-pago. Maslow dizia que um sujeito só avança na sua pirâmide das necessidades na medida em que as necessidades básicas estiverem satisfeitas.   

Logo quando cheguei, vi muitos locais com essa configuração de negócio.
Ponto de recarga
Imaginava que eram locais para se fazer recarga. Passou.
Só que a recarga daqui não é a recarga daí.  Recarga daí, aqui é saldo!!!!! É isso mesmo, na rua existem muitos pontos para recarregar a bateria do celular. Porque a maioria esmagadora das casas não tem luz. Nesse ponto, é possível também fazer ligações de um celular, como se fosse o nosso orelhão, por 30 kwansas, mais ou menos 40 centavos de dólar, menos de 1 real o minuto. É, Maslow deu uma derrapada aqui.... também tem tanta lama..... desculpe vou refazer a frase..... também tem tanto lodo.....
Coisas que só se vê em Angola.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Não tinha como ficar calado.

Sei que a queda do vice representa uma perda grande para o futebol da Bahia. Sinto pelo meu velho avô Ferrari, torcedor do leãozinho. Sinto pela minha mãe, que só tem esse defeito, e pelos meus tios e primos Ferrari, quase todos sofredores sem título. Sinto muito pelo meu amigo e cumpadi Beto, por Jorge William. Sinto ainda, pelos meus poucos primos Marback que insistem em não seguir o Tricolor de Aço, tradição da família.

Mas não tinha como ficar calado nesse domingo sem post! Pelo menos em 2011, esse povo vai ter que engolir o meu Bahêa. Bi brasileiro, na série A, grande! Eles na B, sem título.

Um dia é da caça, o outro é do elevador. kkkkkkkkkkkkkkkk

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Contagem regressiva... 10, 9, 8....

Cissa sempre fala que o melhor de viajar é voltar prá casa. Sou obrigado a concordar. E incluir nesse pensamento dela “um plus a mais”, como dizem uns e outros... A expectativa, a regressiva para a volta para casa é massa! Como volto dia 13, só faltam dez dias. Amanhã 9. E já já estou na área!!!! OBA!
Nesses meses de trabalho na África aprendi mais do que ensinei. Não tenho nenhuma dúvida disso. O que consegui colocar no papel e compartilhar com vocês no blog é só uma pequena parte. Cada dia é uma descoberta, uma viagem. Sairei de Angola com o sentimento que preciso ensinar muito para compensar o que aprendi aqui. Sério mesmo.
Estar longe da família e da minha terra me faz refletir e resgatar muitas coisas. Pessoais, profissionais, espirituais. Mas confesso que ainda não descobri quais questões tenho para resolver. Meu amigo Sandro Salum me disse que são questões internas e pessoais apenas. Pode até ser que você esteja certo em parte, mas percebo que deve ter algo maior, Max. Não é possível que esteja só em mim!
Como a fruta só dá no tempo certo, vou voltar pra casa, namorar com Cissa, pegar onda com Henrique e talvez com Beto, correr com Chang, dar uns treinos de Jiu Jitsu com os parceiros da equipe de Zé Mário, recarregar as baterias uns dias no Vale do Capão (meu futuro endereço), comer um acarajé, jantar uma massa na casa dos meus pais e rever todo o povo de um lado, ir a Arembepe dar muita risada, contar histórias e rever o povo do outro lado.... vixe, tem é coisa para fazer! Vou ter que me virar. E se a fruta não amadurecer, volto para Angola, com gás renovado. E vou trabalhar.
Já falei que tenho minhas metas, que vou correr atrás delas. Para finalizar, lembrei de Duda Mendonça em uma palestra mostrando um comercial genial que ele fez usando essa historinha africana:
"Todos os dias de manhã, na África, o antílope desperta.
Ele sabe que terá de correr mais rápido do que o mais veloz dos leões, para não ser morto.
Todos os dias, pela manhã, desperta o leão.
Ele sabe que terá de correr mais rápido que o antílope mais lento, para não morrer de fome.
Não interessa que bicho você é, se leão ou antílope.
Quando amanhece, é melhor começar a correr!"

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O fácil está feito.

Mantenho um relacionamento com o Jiu Jitsu há muito tempo. Mas nunca estive tão focado como agora. Outro dia falava com o meu mestre e amigo Zé Mário pelo Facebook e ele disse que só eu vindo para Angola para levar os treinos a sério. Não se contesta a sabedoria do mestre. Até porque ou levo a sério ou não tem quem puxe o treino....

A verdade é que sempre dei prioridade a outras coisas, mesmo tendo plena convicção do quanto estar no tatame me faz bem. Isso é passado, não dá para voltar e consertar. Dá sim, para fazer bem feito agora e colher bons frutos no futuro. Logo farei 45, quero minha faixa preta!!!! O caminho é longo, mas o fácil tá feito!

Minhas aulas de Jiu Jitsu em território africano estão sendo muito legais. Exercito a parte técnica, ensino ao pessoal do instituto e não deixo de lapidar a prática de dar aulas, só que no tatame. O meu personal Bruno Oliveira tem me auxiliado a preparar as aulas, dado dicas importantes. 

E no final das contas, tenho tentado sempre mostrar que Jiu Jitsu é a Arte Suave, não se deve fazer força e sim usar a cabeça. Sempre. O mais bacana disso é poder mostrar para os alunos que podemos levar esse aprendizado para a vida.


Alunos brasileiros e angolanos no Jiu Jitsu de Mbanza Kongo.

Faça o que te faz bem. Faça o bem para as pessoas. E tudo vai conspirar ao seu favor.

Osssssss
  

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Mais um ditado...

Um dia desses, vi no Programa do Jô um cara que escreveu um livro sobre ditados populares e suas explicações. Genial. Já tinha ouvido uma entrevista desse mesmo sujeito com Mário Kertész. O cara falou várias coisas interessantes...
Um grande problema da educação em Angola é a ausência absoluta de livros. E isso acontece por uma série de fatores. Primeiro não existem editoras, o que se acha para comprar é importado e muito caro. Segundo a guerra produziu entre 2 e 3 gerações de pessoas que não estudaram, não têm o uso de livros como hábito. Terceiro pela dificuldade logística. Se a chegada de um livro em Luanda já é difícil, imagine na província do Zaire, quase 11 horas de carro, com buraco em mais da metade do percurso?????
Com o fim da guerra e o crescimento econômico, o país adotou como estratégia a formação técnica e profissionalizante em grande escala. É a famosa revolução silenciosa, baseada na educação. Para isso criou uma política chamada RETEP – Reforma do Ensino Técnico e Profissionalizante. É nesse movimento que estou inserido.
Quando chegamos ao instituto, faltava pouco tempo para acabarem as aulas, coisas da burocracia. Logo de cara percebemos que os jovens têm muita vontade de aprender, de mudar de vida. Existe também vontade política. E para completar, existem pessoas empenhadas em transmitir conteúdo. Pronto, a fórmula está quase fechada. Mas faltava a biblioteca!!!!!!
“Quem não tem cão, caça com gato”. Sempre falamos isso quando adaptamos, usamos a criatividade e fazemos “armengues” que resolvem, quando damos aquele jeitinho..... Só que o ditado na sua forma original é “Quem não tem cão, caça como gato”. O gato não é um animal parceiro. Ele caça sozinho. O que muda totalmente o sentido desse dito popular!
Prá tudo tem jeito...
No nosso caso, as duas possibilidades se encaixam. Primeiro porque na falta de livros para montar uma biblioteca, montamos uma biblioteca digital. Resolveu o problema da falta de livros.  E segundo, porque se não fosse pela cooperação dos colegas Cleber e Henrique, não sairia tão legal como saiu.
Trabalho em equipe. Bem melhor!
Vale a pena conferir as matérias que saíram na internet sobre a primeira biblioteca digital de todos os Institutos Médios de Angola. Viva nossa equipa! Viva MBanza Kongo!


Uma das nossas máquinas

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Cada um tem sua verdade II...

Já tem gente perguntando o que falei para o meu aluno rapper. Meu amigo Jorge William é triste hahahaha....
Foi complicado explicar para o aluno que não uso nada. Porque para ele isso não é possível. Aqui a galera curte cabelo liso e é muito mais comum do que vocês imaginam, mulheres usando apliques com aqueles cabelos ultra mega super hiper lisos. Tipo cabelo de boneca mesmo. Então, se nesse lugar quase todos têm cabelos enrolados, e quem tem cabelo liso em Mbanza Kongo é aplique, na cabeça de MC Amercy só restam essas duas opções. Ou o cabelo não é do profe, ou o profe usa alguma fórmula alisadora!!!!!! Hahahahahah
Disse a ele que não usava nada, que é natural. Não sei se ele acreditou. Acho que ele sabe que não é aplique. Ou será que ele tem alguma dúvida? Agora eu fiquei encucado... É mais provável que ele ache mesmo que passo algum produto para alisar..... Porque aqui, cabelo liso não é de verdade...

Cada um tem sua verdade...

Não sei se já comentei com vocês que tenho três alunos rappers. Eles têm uma banda chamada Full Stop, em português seria Ponto Final. Não gosto do nome, mas é um detalhe...
Na sexta passada foi aniversário do instituto onde trabalho e eles foram convidados para fazer uma apresentação, tocar duas músicas. Nos preparativos, eles discutiam sobre a produção de moda. Não tem muito o que escolher, o estilo de vestir é aquele mesmo dos rappers americanos. Camisa de time de basquete, boné aba reta, calça folgada, exagero nas correntes de prata, anéis. Até aí, não tinham muito o que debater.
Chegamos nos cabelos. Miguel, conhecido como MC Jay, disse que faria tranças. MC Medrox, falou que tiraria todo o cabelo. Rasparia. Lá pelas tantas, Jorge, MC Amercy, o mais falante dos três, mandou uma que não acreditei. Do nada, ele lançou – “Profe, o que usas no seu cabelo para ficar assim, mui liso? Gostaria de ficar com o cabelo igual ao do profe, para o show. O meu só enrola!!!!!!!”
“Eu tenho cabelo duro, mas não o miolo mole.”  
Itamar Assunção

domingo, 28 de novembro de 2010

Aviso aos leitores!

Decidi não escrever para o blog nesse final de semana. Percebi, pelos relatórios do blogger, que o acesso do pessoal é muito, mas muito mais reduzido aos sábados e domingos.
Estou com um texto legal prontinho, amanhã entra no ar. Daqueles para refletir....
Vamos chegando aos 2000 acessos. Obrigado pelas visitas!!!!!
Beijo grande!!!!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A pedidos, Landinho!!!!

Nunca imaginei que Landinho fosse fazer tanto sucesso. Foram várias manifestações e o cara já tem vários fãs no Brasil.....

Hoje no café, tirei uma foto com o brother...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Diferentes, mas iguais.

Nunca despreze uma informação. Uma hora, ela servirá para alguma coisa.
Em uma das minhas pesquisas, aprendi um ditado kikongo que gostei muito. Estava guardado para usar na hora certa.
Menga ma mbwa, menga ma mbulu.

A tradução é - Sangue de cão, sangue de lobo. Diferentes, mas iguais. Sábio esse ditado. Profundo esse pensamento kikongo.
Já faz um tempinho que vivemos uma situação constrangedora. Estávamos no mercado e Cleber olhou para uma criança de uns 3 ou 4 anos. O menino abriu um berreiro, e a mãe acalmou a criança dizendo “Não chora bebê! Ele é pula, mas é gente como nós.” Pula é branco. Cleber virou alvo de piada, dissemos que o menino ficou com medo, que foi a feiura dele e por aí vai.
Ontem foi a minha vez! O filho da funcionária da cantina estava sentado brincando e quando me viu chegando, fez cara de pânico e saiu chorando, e gritando “Mama, mama!!”. O motorista Alex riu muito e disse que o guri morre de medo dos professores brasileiros. Porque somos diferentes.
E como estou estudando kikongo, já vou praticando:
Menga ma Mumbundu, menga ma Mundele.
Sangue de negro, sangue de branco.
Inevitável lembrar de uma série de comerciais da Bennetton sobre o tema.  Alguém se recorda?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O acordado não é caro.

O calor que fez hoje de manhã era um aviso que teríamos chuva. Na mosca! E que chuva!!! Os raios parecem cair na minha varanda. Eu nunca tinha visto desses...
Thor, o Deus do Trovão
Lembrei que quando descobri que seria pai, trovejava muito em Salvador! E era exatamente nessa época do ano! Fui com Cissa buscar os exames no laboratório, certo do resultado e de que seria um menino. Thor, o Deus do Trovão! Durante um tempo, dizia que daria o nome de Thor ao meu filho. Cissa curtiu. Mas minha avó Nancy se encarregou de desconstruir a ideia, alegando que Thor iria sofrer com os coleguinhas da escola, com o apelido óbvio de Totó. Na época não tinha Passione, Totó era nome de cachorro. Para não contrariar a pessoa que mais me amou nessa vida, decidimos chamar o nosso filho de Henrique. Nancy na verdade arranjou um jeito delicado de dizer que não concordava que o primeiro bisneto tivesse um nome exótico......
Aos poucos, a tempestade que cai lá fora foi tirando os meus recursos. Primeiro caiu o sinal da internet, depois os canais da parabólica desapareceram. E por fim, agora faltou luz. Como falta luz nessa terra!!!! Daqui a pouco os geradores entram em ação.
Volta pro texto...... Ontem vi na TV uma matéria que falava sobre a dificuldade de comunicação entre as pessoas, toda montada em cima de um caso interessante. Um cidadão morador de Brasília perdeu um longo tempo tentando explicar para uma atendente de telemarketing o seu endereço. Ela não entendia e ficou irritada com isso. Em Brasília os endereços são siglas. O camarada dizia “SQN, 240” e ela dizia que não entendia. Ele mora na super quadra norte, 240. Simples. Depois de muita luta ele falou: “É Sapo Quase Nada, 240”. Ela sinalizou que tinha entendido e desligou.
Quando chegou a correspondência, estava lá – “Sr. Fulano de Tal, Endereço: Sapo Quase Nada, 240, Brasília – DF”. A correspondência chegou!!!! O responsável pelos Correios justificou que se o CEP está correto, a correspondência chega. Não é simples? E Tia Memélia ainda vem me dizer que não é tão simples assim descomplicar o complicado!!!! hahahaha
Complicamos as coisas sim. Outra vez ouvi Mário Kértesz contar que pegou um taxi em Portugal e pediu para ir a determinado restaurante. O taxista falou que sim e seguiram viagem. Quando chegaram lá, o local estava com tapumes, em reforma. E o taxista disse “pronto senhor”. Mário disse, mas o restaurante está fechado!”. E foi obrigado a ouvir “o senhor me pediu para trazê-lo aqui!”. O taxista estava certo. 
Tenho prestado atenção para não deslizar nessas situações. Mas ontem foi fatal. No almoço perguntei ao garçom Landinho (esse é o nome dele mesmo!) se tinha café. Ele disse que tinha. Se passaram mais de 10 minutos e nada do café.... Aí eu matei a charada, mas decidi tirar a prova. Perguntei a Landinho pelo café. Na lata ele mandou: “Mas Heitor, você perguntou se tinha!!!”.
Um colega brasileiro não consegue digerir bem isso. Já o outro, Carlos Henrique só faz rir. Mas Cleber é estourado, diz que é absurdo, que angolano não é proativo, que o serviço é ruim, que não tolera. Fui obrigado a discordar dele e dar razão a Landinho. O vacilo foi meu. Eles tratam a comunicação melhor que nós, isso é inquestionável.
Engraçado que apelido aqui é sobrenome. E tem pessoas que têm sobrenomes no lugar do nome próprio. Exemplo – tenho um colega que se chama Almeida Queta. Queta, na verdade era para ser Keta, mas o escrivão trocou as letras. E Keta em kikongo é leal. Em casa os pais o chamam de Leal, que é a sua alcunha. Alcunha aqui é apelido. Então, ou você fica ligado ou se atrapalha.
Do mesmo jeito, aqui tem gente que não tem sobrenomes típicos. Exemplo – o nosso diretor se chama Alfredo José Adelino. Só isso. Nosso motorista se chama Miguel Lino, apesar de que Lino pode ser nome ou sobrenome no Brasil..... A alcunha dele é Alex, e é assim que ele gosta de ser tratado.
Perguntei ao Prof. Queta se ele já tinha visto o novo acordo ortográfico. Vixe, a conversa rendeu.... mas resumindo, não viu, aqui não chegou e acho difícil um dia aquilo chegar e valer por aqui. Continuarão a escrever económia, director, planeamento, assembléia e por aí vai. Ele disse inclusive que o acordo foi uma proposta feita pelo Brasil, mas que não sabe se os outros países de língua portuguesa irão adotar. Ainda estão a avalair. Mas não era acordo? Preferi não render a conversa.  

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Quem não se comunica se arromba, para não dizer outra coisa....

Desde que o mundo é mundo, sempre tem algum lugar em guerra. E na grande parte das vezes a religião está por trás, motivando a pancadaria. Enquanto gostos e preferências não forem respeitados, não teremos paz total no planeta. É como escrevi ontem, basta descomplicar o complicado, tolerar o intolerável, compreender o incompreensível. Simples!
Discutir religião é complicado.  Vamos descomplicar! Vou falar de questões mercadológicas e religião. O marketing religioso ocupa um espaço importante hoje no marketing institucional, que é a área de estudo do marketing no campo das ideias. O que se vende não é um produto ou um serviço, mas um pensar, uma imagem, uma crença. Igual ao marketing político.
Apesar de ter vivido muito recentemente um período de guerra, o povo de MBanza Kongo dá show de tolerância religiosa e paz. O clima de cidade pequena, onde as pessoas se conhecem é muito legal. Totalmante diferente de umas e outras, onde o que mais importa é a vida dos outros. Aqui é cada um no seu quadrado. E nos domingos a fé ferve.
Se algum ex-aluno ler esse texto de hoje vai lembrar que toquei nesse assunto nas nossas aulas de marketing.
Não sei se vocês sabem, mas Edir Macedo, o big shot da Igreja Universal, foi diretor de marketing da Xerox do Brasil por quase uma década. E como homem de mercado, sabe que se posicionar e apresentar diferenciais são chave de sucesso. Brinco sempre dizendo que todos nós somos clientes em potencial da Universal – o slogan deles, para os não-fiéis, ou na língua do marketing, para os prospects é “Pare de Sofrer!”. É fantástico esse slogan, adoro! Parafraseando o presidente, nunca na história desse país se criou um slogan tão certeiro. Totalmente inclusivo! Todos nós sofremos, de uma forma ou de outra. Problemas de saúde, de saudade, falta ou sobra de dinheiro, afetivamente, solidão, perdas e por aí vai. Êita que vai ter gente dizendo que não há sofrimento com sobra de dinheiro!!!!! Vamos aguardar.....
E o bispo e sua igreja crescem a passos largos, com o suporte das ferramentas mercadológicas. O cara dá aula prática!!!!! Sabendo que a comunicação é a ferramenta mais importante do marketing, o que ele fez? Comprou a Record e tem uma máquina de comunicar. Aqui em Mbanza Kongo, no fim do mundo, tem dois templos e a Record Internacional é muito popular. Já falei que aqui Mutantes é mais vista do que Passione? Então fiquem sabendo.... IURD é igual a Coca-Cola, em todo lugar se acha!!! Presente sempre!
Eu poderia escrever páginas e mais páginas sobre exemplos do uso do marketing pela IURD, e a falta dele pelas outras crenças. E os resultados mostram a eficiência da ferramenta. É inquestionável.
Volta para Angola..... pois bem, hoje conversei muito com um padre professor, que dá aulas lá no Instituto. Um cara jovem, culto, estudou no Porto, Portugal. E de uma linha mais moderna da Igreja Católica.
Falei que estudei em colégio de Jesuítas. A primeira coisa que ele me disse foi que a comunidade católica faz piada, dizendo que existem somente três coisas que Deus não sabe. Ele não sabe quantas congregações católicas femininas existem, quanto dinheiro os Salesianos têm e não sabe tudo que os Jesuítas sabem. E se acabou de rir com essa piada sem graça... Mas o assunto é sério, porque não adianta saber muito e não usar o que sabe.
Disse ao padre que achava interessante a Igreja Batista daqui fazer um culto na língua nacional, o kikongo. E ele falou que na igreja dele também fazem missa em kikongo. Show de incompetência mercadológica. Se oferece isso tem que informar, comunicar. Aí está o grande erro da Igreja Católica. Na Batista tem uma placa informando. A Igreja Católica não sabe se vender. E olhe que isso é uma coisa fácil de fazer, pois todos nós sofremos!!! E buscamos algo superior para nos amparar.

Um axé!
Notas:
1)      Esse assunto me interessa muito. Sei que falar sobre crenças é difícil. Mas continuarei a provocar o debate. Hoje, o propósito foi esse.
2)      Estou indócil porque não consigo informação sólida sobre o Candomblé. Estou começando a achar que tem “coelho nesse mato”. Sinto que os angolanos não gostam de falar sobre “feitiçaria”. É assim que eles tratam as religiões matriz. Ainda chego lá.
3)      No marketing existem duas situações valorizadas. Uma é “Sair na frente” e a outra é “Estar na frente”. Quem sai na frente tem vantagem. Os Jesuítas saíram na frente. Edir Macedo está na frente. Captaram?
4)      A discussão é mercadológica. Mas só para esclarecer, sou um ex-cliente católico e simpatizante da Doutrina Espírita. E não fui um prospect captado pelo uso da ferramenta de comunicação cinema, com os filmes Chico Xavier e Nosso Lar!!! Mas vejam como a comunicação é importante!!!! Tem é gente se dizendo espírita....
5)      Saudades do Joanna de Angelis. Me faz muito bem....

 
 

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O Reino do Congo

Hoje é feriado em Angola – Dia do Educador. Finais de semana são complicados aqui. Ontem Henrique me disse que eu sou a única pessoa que não gosta de fim de semana e pior ainda quando é prolongado!!!!! Em MBanza Kongo eu não gosto mesmo não!!!! Pelo menos morando em hotel é chato demais. Em casa é bom.....

A nossa casa continua em obra e o ritmo continua lento. O hit do momento ainda é: “Ritmo, é ritmo de festaaaaaa”. Um mês no topo das paradas de sucesso!!!! Ninguém merece... Lá na casa tem bastante espaço, terra vermelha, vou fazer uma horta. Dá para fazer também uma jardinagem bem legal na área da frente. Já tenho muitas horas de trabalho garantido para os finais de semana no retorno em 2011.

Estou ficando um pouco preocupado com o rumo do blog. Sou muito curioso e inquieto, o que me faz buscar aprender algo novo, todos os dias, sobre a cultura e as coisas daqui. Gosto de escrever sobre isso. Diferenças, semelhanças. Isso interessa e agrada à maioria, pelos feedbacks que recebo da galera. Acho que por mais que fique aqui, esse grande tema é inesgotável. Porém tenho receio de ficar cansativo. Aceito sugestões...

Já os textos “poéticos” como diz Cissa, são comentados mais por quem é da minha cozinha. Cissa curte bem mais os poéticos. E é ácida nos comentários sobre cultura. Quando vocês não encontrarem comentário dela no blog é porque ela foi “discreta” e fez por e-mail!!!! Escrever sobre minhas emoções tem sido muito bom para mim. Sempre fui muito egoísta com meus sentimentos. Democratizar o meu EU tem sido uma vitória...

Hoje vamos falar rapidamente do passado dessa região daqui. Uma aula de história vai esclarecer algumas coisas. Se eu, que estou aqui, demorei a entender essas confusões todas, imagino a cabeça de vocês como fica – "Heitor foi para Angola, mora no estado (que aqui chama província) do Zaire em uma cidade chamada MBanza Kongo!!!!!" Mas o Congo não é um país? Vixe, é confuso mesmo! Vamos esclarecer...

A região da África onde estou era chamada antigamente de Reino do Congo, ou Império do Congo. Esse reino era muito grande, englobava o que hoje é o noroeste de Angola (estados do Zaire e Cabinda), a República do Congo, a República Democrática do Congo (sim, são dois países com o mesmo nome!), além do centro-sul do Gabão.

Para se posicionar, ache Angola no mapa e veja os três vizinhos que estão acima....essa é a região do Reino do Congo!


A República do Congo também é conhecida como Congo Brazzaville ou Congo Pequeno. Brazzaville é a capital. Lá se fala francês.

A República Democrática do Congo, também é chamada de Congo Belga ou Congo Kinshasa. Kinshasa é a capital. Esse era o país que se chamava Zaire e foi extinto. Era uma possessão pessoal de Leopoldo II da Bélgica e se tornou independente em 1960. A língua oficial é o francês. A divisa com esse país fica bem perto daqui - 68Km. Lá tem uma Zona Franca, pretendo ir até lá antes do retorno pra casa.

O Gabão tem Libreville como capital e lá também se fala francês.

Esse reino foi fundado por Ntinu Wene, no século XIII. Ah, vamos fazer um pit stop para aproveitar e aprender que muitas palavras aqui têm um N ou um M na frente que se pronuncia "meio mudo". Ou seja o cara que fundou o Reino do Congo, no Brasil se chamaria Untino, com o "Un" pronunciado de boca fechada. É estranho, mas é fácil. Mas podem chamá-lo de Tino mesmo! Cidade é Mbanza, se diz Umbanza, ok? Albino é Ndundo. Porco-espinho é Ngumba. Vão exercitando hahahahah. É legal!!!!! O nome do gerente do hotel é Ngumba. Perguntei a ele o significado e ele me disse que era o nome de um bicho perigoso, não soube me explicar. Nunca iria imaginar. Dei várias alternativas... nada. Meus alunos esclareceram e tive uma crise de riso – o cara se chama Porco Espinho, talvez o apelido seja Ouriço Cacheiro!!!! Erethizon dorsatum, sabia essa pai???? Guarde aí!

Sim, voltando ao assunto do reino... A capital do império era Mbanza Kongo, que significa então, Cidade do Congo. Quando os portugueses chegaram a rebatizaram como São Salvador do Congo, assim como converteram o rei e o reino ao catolicismo, mais ou menos no século XVI. Com a independência de Angola em 1975, a cidade voltou a se chamar MBanza Kongo.


Diz a lenda que Mbanza Kongo, como capital, era o centro nervoso de toda essa extensão. Se falam em 100 mil habitantes naquela época!!!!! A guerra espalhou todo o povo. Hoje a cidade tem 30 mil habitantes. E de ruína, só tem a Igreja que já citei em outro texto. Mas continuam a procurar a cidade antiga. Acho que é igual a Atlântida....por isso, para mim é lenda...

Ôpa! Que som é esse? Putz, acabei de ver no Programa do Jô a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, regida pelo Maestro Forró. Êta Brasil bacana. Uma sonzeira que vocês não acreditam!!!! http://www.opbh.com.br Confiram! O diretodeangola recomenda! Nas minhas barbas e eu nunca tinha ouvido falar!!!! Foi preciso viajar a MBanza Kongo para conhecer. Sei não.....

Um Axé viu?

sábado, 20 de novembro de 2010

Significados


É impressionante como as pessoas complicam as coisas. As vezes é tão simples, mas criamos monstros onde não cabe. Por isso cada vez mais curto a Doutrina Espírita.

Já planejava escrever sobre questões espirituais. Mas faltava alguma coisa. O post tava quase, mas faltava um pedaço. Aí volto para o quarto, ligo a TV sem maiores expectativas e enquanto espero o netbook iniciar, ouço Marília Gabriela dizer:

"Se tiver que amar, ame hoje. Se tiver que sorrir, sorria hoje. Se tiver que chorar, chore hoje. Pois o importante é viver hoje. O ontem já foi e o amanhã talvez não venha."
André Luís, por Chico Xavier.

Pronto! Obrigado André Luís! Agora o post sai....

A minha decisão de trabalhar na África foi infestada de opiniões. Se eu fosse dar ouvidos ao que a galera disse eu estava agora na Bahia, acreditando que isso aqui é o fim do mundo, que é impossível manter um casamento e uma família estando fora de casa, que iria ter paludismo ou doença do sono e por aí vai. Realmente, não seria nada mal nesse momento estar em Imbassaí com toute la famille reunie, como dizia Vó Nancy (pesquei essa de Memélia hehehe, nem lembrava mais...). Pegar onda, jiboiar, comer e beber bem e estar com os que eu amo. Não deu dessa vez, mas teremos tantas outras oportunidades!

Se colocasse em uma balança as opiniões que ouvi, não viria. É sério! Engraçado que essas opiniões foram todas de gente que tinha uma visão preconcebida. Já falamos sobre isso...

A decisão foi difícil. Dificílima. Com todas as letras. Fiquei atordoado. Tive crises de choro sozinho. Várias. Deprimi. E quem me conhece sabe que nunca fui prá baixo. Morri de medo que a vinda destruisse minha família e a emenda fosse pior que o soneto. Só que precisava viver isso. Para crescer como pessoa, como profissional, como pai, como marido, como filho, como amigo, como irmão. Como espírito.

Todas as opiniões foram importantes para eu construir a minha decisão. Mas eu não vou falar dos que me disseram que era maluquice. E nem me lembro de todas as pessoas que escutei.

Cissa foi uma incentivadora, me deu segurança e apoio. Henrique disse que não se importava, mas só queria saber quando eu voltava. E Cissa falou todo o tempo que eu tinha alguma questão para resolver aqui. Aliás, basta estar com as questões espirituais trabalhadas de alguma forma para entender isso. Lá no Joanna de Angelis ouvi várias vezes, e de várias formas que se alguma situação é colocada no seu caminho, é porque você precisa viver aquilo.

Duda e meu pai são defensores da visão de longo prazo. O que mais preocupa os dois é a estabilidade futura. Respeito muito o pensamento deles. E eles respeitam nossas diferenças, mas ficam apreensivos. Normal, é o instinto protetor. O próprio Duda diz que nossa vida é consequência das nossas escolhas. Esse é um pensar espírita. Sábio meu irmão.

Minha mãe descompensou. Deprimiu também. Eu soube. Mas comigo foi positiva. Beta incentivou, Memélia e Tatá também.

Da parte da casa de Cissa foi a mesma coisa. Uns com medo, outros colocando pilha. Mas teve sofrimento. Sei o que cada um pensa.

Michel me contou das conquistas do irmão dele que já está aqui há três anos. Repetiu “Se jogue Heitor!” várias vezes. Foi decisivo. Jorge William, em um longão de corrida pela orla em um sábado, falou de um ex–colega nosso, que só teve crescimento aqui. Beto botou pressão e vibrou. E meu primo Guilherme Neto, que sempre uso como conselheiro e sempre acerta, deu um suporte massa na minha escolha. Até com o exemplo dele, que mora fora de casa há dois anos!

Tenho metas. Defini um tempo para ficar aqui. Uma quantidade de dinheiro para ganhar e empreender na Bahia. Correr minha primeira maratona em 2011, no Rio. Continuar estudando. Ajudar a quem precisa.

E vou até aproveitar para revelar uma meta muito íntima que ganhou forma e força com a minha vinda para a África - ser faixa preta de Jiu Jitsu no ano que fizer 45 anos. Até 2014! Êita que uns estão sem entender e outros dizendo que estou sonhando..... Mas é verdade! Esse ano fui 3º lugar na Copa do Mundo de Jiu Jitsu em Salvador e Zé Mário me deu a Faixa Roxa, penúltima da nossa arte suave. Com a minha “purple belt” já sou instrutor. Zé sabe que dar aulas faz parte da minha natureza. Meu personal, Bruno “Inhonho” também sabe. Zé me confiou a missão de fincar a bandeira Zé Mário Team na África. Como em Tropa de Elite, “Missão dada é missão cumprida”. Já está fincada Sensei. Essa semana já vou puxar um treino com os alunos do instituto. O Jiu Jitsu me faz bem. Então vou correr atrás da minha meta. E da minha felicidade. Corra atrás da sua!

Talvez esteja esquecendo alguém que apoiou. Desculpem! Os que foram contra podem ficar tranquilos, a opinião de vocês também foi importante. O certo é que ainda não descobri o significado, ou todos os possíveis significados dessa vinda para a África na minha vida. Tenho certeza que é para fazer o bem. Sei que tem também relação com meu crescimento e com a oferta de conhecimento técnico. Só que estou aprendendo muito mais do que ensinando!!!! Então preciso agradecer a Deus! Obrigado!!!!!

Vamos em frente.... Vivam. Eu estou vivendo aqui! E para mim está sendo muito bom, podem acreditar!

OSSSSSSSSSSSS

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Acorda cultura!

Passar uma temporada longe de casa tinha que ter pelo menos uma coisa legal. Sozinho posso dormir com a TV ligada. Todos os dias! Cissa não tolera. Eu me amarro. Pela paz, nem TV no nosso quarto colocamos.
Hoje quando abri o olho tava começando um programa que nunca vejo no Brasil, o Ação, na Globo Internacional. O programa de hoje: A cor da cultura.
Em uma daquelas “sacadas” dos publicitários, que vivem tentando ser espetaculares, saíram com esse nome para o programa. A ideia era “brincar” com “a cor da”, que sem espaço vira “acorda”. A edição de hoje tentou mostrar, mais uma vez, como a África influencia a cultura baiana. Nas mais variadas manifestações. No final minha conclusão - não aprofundaram em nada, muito pelo contrário, foi tão raso que chegou a irritar.
Eu até tento dar outro direcionamento para meus textos, escrever sobre as mais variadas coisas, mas não consigo me calar diante do que vi. Serginho Groissman é até um cara que tem algum conteúdo. Tenho assistido “Altas Horas”, que aqui na África não é transmitido de madrugada como aí no Brasil. Gosto do modelo, com duas bandas, sexóloga, artistas, atletas, intelectuais, platéia interagindo, tudo misturado, Sai coisa legal. Outro dia, por exemplo, teve Charlie Brown Jr e Luan Santana, Rock e Sertanejo, e foi bom. A fusão pode sim ser bacana.
Só que o Ação de hoje foi mistureba. Daquelas indigestas. Vamos lá.
Teve Dadá falando da influência da África na comida. Ela até que cozinha legal, mas fracassou no discurso. Se limitou a falar de adaptações das “comidas de santo”, do dendê que dá “cor, perfume e charme” aos pratos. Falou do ato de muquiar a folha de banana, ação de “passar toda a energia do fogo” para o que será a base de alguns pratos. Por fim, disse que “não se bate os temperos no liquidificador para não perderem a força”. Segundo a maga da nossa fantástica comida baiana (A-D-O-R-O-!-!-!, não Dadá, a comida), o tempero tem que ser cortado e amassado com faca e machucador, "para passar todo o amor e força da Bahia". Me poupe. Não falou nada de influência. Dadá deveria ficar na cozinha. Rende melhor....
Vi também um historiador e uma antropóloga, esses dois sim falaram rapidamente e passando firmeza, sobre tribos e etnias que foram levados da África para o Brasil na época da escravatura. Só os de etnia Bantu, saíram de regiões geográficas onde hoje estão Angola, República do Congo, República Democrática do Congo, Moçambique e até a Tanzânia. Eu que pouco andei só em Angola, já percebo as diferenças na comida, na língua, no vestir de uma província para outra. Imagine de um país para outro. A Tanzânia tá do lado de lá da África gente! Tô até querendo ir lá ano que vem, uma pequena aventura, depois eu conto. Convite do Dr. Nelson Salles Neto, amigo Piaba, do Vieira.
Depois vou transmitir a aula que tive ontem sobre o Antigo Reino do Congo. É massa que poderemos esclarecer um monte de dúvidas sobre Congos em geral.
Os escravos da etnia Bantu foram vendidos e se concentraram basicamente no Rio e em Minas.
Os que foram levados para a Bahia, o tráfico negreiro dividia em Malês, Nagôs e Jejes. Essa galera veio de regiões onde hoje estão Costa do Marfim, Benim, Togo, Gana e Nigéria. 
Vamos esclarecer então:
Os nagôs falavam iorubá e eram das tribos Ketu, Egba, Sabé.
Os jejes eram das tribos Fons, Ewés, Fanti.
Os males falavam a língua hauçá e seguiam a religião muçulmana. Os Hauças habitam a Nigéria, mas se espalharam pelo continente inteiro. Existem hoje concentrações Hauças em Gana, Costa do Marfim, Sudão e República dos Camarões.
Além dos Malês, também foram trazidos para a Bahia escravos de outras etnias islamizadas, como mandingas, fulas, tapa, bornu.
Voltando ao programa, na sua parte final, teve Vovô do Ilê. Não o conheço pessoalmente, mas sei que ele tem um trabalho atuante e importante na Senzala do Barro Preto, na Liberdade. Sei também que o seu trabalho tem como lastro a autoestima do povo de pele negra e isso deriva para a música, a dança, a moda, e um conjunto de manifestações que no final das contas resulta no que é o Ilê Aiyê hoje. Apesar de ter começado como forma de protesto contra os blocos de carnaval em que não desfilavam negros, a entidade atualmente tem escola, cursos profissionalizantes, oficinas de música, teatro, dança e por aí vai. Só que na hora em que terminou eu perguntei “sim, e as origens africanas????”
Deusas do Ilê
Se aqui em MBanza Kongo eu disser a um angolano que a casa da minha avó em Itapagipe não era nenhuma biboca, tinha sapoti e jabuti, se comia cuscuz, bolo de aimpim, de tapioca, de puba e pamonha porque nunca estivemos na pindaíba, o que acontece? Provavelmente ele só vai saber que tudo isso rolava na casa da minha avó! Nada disso é do africano, gente, é do índio. O povo original do Brasil.    
Gente, tô terminando o texto com a TV ligada (lógico!) e acabo de ouvir Evaristo, repórter que apresenta o Jornal Hoje, que aqui passa 18h, dizer que a Globo, em parceria com o Ministério da Educação está fornecendo o material da série “A cor da cultura” para ser utilizado pelas escolas. Basta solicitar ao MEC. Alguém peça aí, para fazermos uma análise mais apurada disso!
Ninguém vai dizer que o iorubá é do índio. É da África. Ninguém vai dizer que quando os escravos rezavam, dançavam nas senzalas não faziam exatamente como na África, sua terra mãe. O arroz de hauçá é da África sim!!! Não dá para contestar a maioria negra da Bahia. Não dá para não buscar associações e origens. Mas também não dá para aceitar tanta fragilidade na informação. Pode até ter gente que não liga, tem coisa mais importante para se preocupar. Só que eu estou na África. Sei que uma parte nossa veio daqui. Não é da minha natureza adiantar o lado sem procurar entender o passado. E hoje tenho muito claro na minha cabeça que passado, presente e futuro estão ligados, são inseparáveis. Aí é uma outra conversa....