Discutia umas coisas com Rick a pouco no msn e ele me perguntou porque eu não escrevia sobre aquela nossa reflexão no blog. Aceitei a sugestão do meu filho.
Vamos lá..... Nossas aulas de Jiu Jitsu em Angola surgiram através de uma proposta de extensão, aberta para alunos, funcionários, comunidade.
Jiu Jitsu se pratica com kimonos, mas existe uma outra possibilidade de treino chamada “No Gi”, ou seja sem kimono. O nosso treino aqui é “No Gi”, não para tirar onda, e sim porque não temos kimonos! A galera não tem cultura de arte marcial, nem grana para comprar kimono, e nem se acha para comprar por aqui! Eu não vi...
Pois bem, hoje, depois do treino, que por sinal só faz encher, cada dia aparece mais gente, um aluno perguntou quando eu iria e voltava do Brasil. Respondi. E ele me perguntou se eu poderia trazer um par de sandálias Havaianas para ele. Da original. Made in Brazil. A da bandeirinha. Aqui só tem réplica, e “muito da vagabunda”. “Mas professor, tem que ter escrito, fabricada no Brasil”.
Disse a ele que trarei. Claro que trarei! Aliás, naquele momento decidi trazer vários pares. Mas aquele pedido me fez viajar longe, muito longe. Me tocou profundamente.
Primeiro foi a questão da riqueza, dos valores mesmo. Perdemos tanto tempo das nossas vidas atrás de coisas fúteis. Vivemos correndo atrás de dinheiro. De artigos de luxo. De um monte de coisas que achamos que irão nos completar, nos fazer felizes. E nem sempre isso é verdade. Enquanto isso, na Sala de Justiça, um garoto angolano, que não tem um kimono prá treinar, com certeza deve ter muito pouca coisa até para comer e para vestir, quer sandálias Havaianas.
Isso é uma chacoalhada nas crenças de quem coloca sempre o dinheiro em primeiro lugar. Reforço o que já disse no blog – eu aprendi muito mais do que ensinei aqui na África. Não tem nem graça essa comparação.
Portanto senhoras e senhores, se vocês andam “pilhados” atrás do Real, parem e pensem bem. Dinheiro é ótimo, ajuda e muito. Mas o que você realmente está fazendo pela sua felicidade? Tem ajudado ao próximo? Tem pensado no meio ambiente? Tem dado exemplo? Tem feito o bem?
Depois entrei em outro processo, o mercadológico. Vejam a força e a amplitude que pode ter essa marca. Quem foi naninha?! Uma simples sandália de borracha. Virou marca desejada, copiada. Ganhou o mundo. Encanta e virou símbolo de status. É um case de sucesso de marketing. Reposicionamento monstruoso. Comento sempre com os alunos sobre essa história de sucesso.
Só que não imaginava que justamente um pedido de sandália Havaianas iria me derrubar. Ou já que estamos em clima de tatame, me finalizar.
Ossssssss