terça-feira, 30 de novembro de 2010

Mais um ditado...

Um dia desses, vi no Programa do Jô um cara que escreveu um livro sobre ditados populares e suas explicações. Genial. Já tinha ouvido uma entrevista desse mesmo sujeito com Mário Kertész. O cara falou várias coisas interessantes...
Um grande problema da educação em Angola é a ausência absoluta de livros. E isso acontece por uma série de fatores. Primeiro não existem editoras, o que se acha para comprar é importado e muito caro. Segundo a guerra produziu entre 2 e 3 gerações de pessoas que não estudaram, não têm o uso de livros como hábito. Terceiro pela dificuldade logística. Se a chegada de um livro em Luanda já é difícil, imagine na província do Zaire, quase 11 horas de carro, com buraco em mais da metade do percurso?????
Com o fim da guerra e o crescimento econômico, o país adotou como estratégia a formação técnica e profissionalizante em grande escala. É a famosa revolução silenciosa, baseada na educação. Para isso criou uma política chamada RETEP – Reforma do Ensino Técnico e Profissionalizante. É nesse movimento que estou inserido.
Quando chegamos ao instituto, faltava pouco tempo para acabarem as aulas, coisas da burocracia. Logo de cara percebemos que os jovens têm muita vontade de aprender, de mudar de vida. Existe também vontade política. E para completar, existem pessoas empenhadas em transmitir conteúdo. Pronto, a fórmula está quase fechada. Mas faltava a biblioteca!!!!!!
“Quem não tem cão, caça com gato”. Sempre falamos isso quando adaptamos, usamos a criatividade e fazemos “armengues” que resolvem, quando damos aquele jeitinho..... Só que o ditado na sua forma original é “Quem não tem cão, caça como gato”. O gato não é um animal parceiro. Ele caça sozinho. O que muda totalmente o sentido desse dito popular!
Prá tudo tem jeito...
No nosso caso, as duas possibilidades se encaixam. Primeiro porque na falta de livros para montar uma biblioteca, montamos uma biblioteca digital. Resolveu o problema da falta de livros.  E segundo, porque se não fosse pela cooperação dos colegas Cleber e Henrique, não sairia tão legal como saiu.
Trabalho em equipe. Bem melhor!
Vale a pena conferir as matérias que saíram na internet sobre a primeira biblioteca digital de todos os Institutos Médios de Angola. Viva nossa equipa! Viva MBanza Kongo!


Uma das nossas máquinas

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Cada um tem sua verdade II...

Já tem gente perguntando o que falei para o meu aluno rapper. Meu amigo Jorge William é triste hahahaha....
Foi complicado explicar para o aluno que não uso nada. Porque para ele isso não é possível. Aqui a galera curte cabelo liso e é muito mais comum do que vocês imaginam, mulheres usando apliques com aqueles cabelos ultra mega super hiper lisos. Tipo cabelo de boneca mesmo. Então, se nesse lugar quase todos têm cabelos enrolados, e quem tem cabelo liso em Mbanza Kongo é aplique, na cabeça de MC Amercy só restam essas duas opções. Ou o cabelo não é do profe, ou o profe usa alguma fórmula alisadora!!!!!! Hahahahahah
Disse a ele que não usava nada, que é natural. Não sei se ele acreditou. Acho que ele sabe que não é aplique. Ou será que ele tem alguma dúvida? Agora eu fiquei encucado... É mais provável que ele ache mesmo que passo algum produto para alisar..... Porque aqui, cabelo liso não é de verdade...

Cada um tem sua verdade...

Não sei se já comentei com vocês que tenho três alunos rappers. Eles têm uma banda chamada Full Stop, em português seria Ponto Final. Não gosto do nome, mas é um detalhe...
Na sexta passada foi aniversário do instituto onde trabalho e eles foram convidados para fazer uma apresentação, tocar duas músicas. Nos preparativos, eles discutiam sobre a produção de moda. Não tem muito o que escolher, o estilo de vestir é aquele mesmo dos rappers americanos. Camisa de time de basquete, boné aba reta, calça folgada, exagero nas correntes de prata, anéis. Até aí, não tinham muito o que debater.
Chegamos nos cabelos. Miguel, conhecido como MC Jay, disse que faria tranças. MC Medrox, falou que tiraria todo o cabelo. Rasparia. Lá pelas tantas, Jorge, MC Amercy, o mais falante dos três, mandou uma que não acreditei. Do nada, ele lançou – “Profe, o que usas no seu cabelo para ficar assim, mui liso? Gostaria de ficar com o cabelo igual ao do profe, para o show. O meu só enrola!!!!!!!”
“Eu tenho cabelo duro, mas não o miolo mole.”  
Itamar Assunção

domingo, 28 de novembro de 2010

Aviso aos leitores!

Decidi não escrever para o blog nesse final de semana. Percebi, pelos relatórios do blogger, que o acesso do pessoal é muito, mas muito mais reduzido aos sábados e domingos.
Estou com um texto legal prontinho, amanhã entra no ar. Daqueles para refletir....
Vamos chegando aos 2000 acessos. Obrigado pelas visitas!!!!!
Beijo grande!!!!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A pedidos, Landinho!!!!

Nunca imaginei que Landinho fosse fazer tanto sucesso. Foram várias manifestações e o cara já tem vários fãs no Brasil.....

Hoje no café, tirei uma foto com o brother...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Diferentes, mas iguais.

Nunca despreze uma informação. Uma hora, ela servirá para alguma coisa.
Em uma das minhas pesquisas, aprendi um ditado kikongo que gostei muito. Estava guardado para usar na hora certa.
Menga ma mbwa, menga ma mbulu.

A tradução é - Sangue de cão, sangue de lobo. Diferentes, mas iguais. Sábio esse ditado. Profundo esse pensamento kikongo.
Já faz um tempinho que vivemos uma situação constrangedora. Estávamos no mercado e Cleber olhou para uma criança de uns 3 ou 4 anos. O menino abriu um berreiro, e a mãe acalmou a criança dizendo “Não chora bebê! Ele é pula, mas é gente como nós.” Pula é branco. Cleber virou alvo de piada, dissemos que o menino ficou com medo, que foi a feiura dele e por aí vai.
Ontem foi a minha vez! O filho da funcionária da cantina estava sentado brincando e quando me viu chegando, fez cara de pânico e saiu chorando, e gritando “Mama, mama!!”. O motorista Alex riu muito e disse que o guri morre de medo dos professores brasileiros. Porque somos diferentes.
E como estou estudando kikongo, já vou praticando:
Menga ma Mumbundu, menga ma Mundele.
Sangue de negro, sangue de branco.
Inevitável lembrar de uma série de comerciais da Bennetton sobre o tema.  Alguém se recorda?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O acordado não é caro.

O calor que fez hoje de manhã era um aviso que teríamos chuva. Na mosca! E que chuva!!! Os raios parecem cair na minha varanda. Eu nunca tinha visto desses...
Thor, o Deus do Trovão
Lembrei que quando descobri que seria pai, trovejava muito em Salvador! E era exatamente nessa época do ano! Fui com Cissa buscar os exames no laboratório, certo do resultado e de que seria um menino. Thor, o Deus do Trovão! Durante um tempo, dizia que daria o nome de Thor ao meu filho. Cissa curtiu. Mas minha avó Nancy se encarregou de desconstruir a ideia, alegando que Thor iria sofrer com os coleguinhas da escola, com o apelido óbvio de Totó. Na época não tinha Passione, Totó era nome de cachorro. Para não contrariar a pessoa que mais me amou nessa vida, decidimos chamar o nosso filho de Henrique. Nancy na verdade arranjou um jeito delicado de dizer que não concordava que o primeiro bisneto tivesse um nome exótico......
Aos poucos, a tempestade que cai lá fora foi tirando os meus recursos. Primeiro caiu o sinal da internet, depois os canais da parabólica desapareceram. E por fim, agora faltou luz. Como falta luz nessa terra!!!! Daqui a pouco os geradores entram em ação.
Volta pro texto...... Ontem vi na TV uma matéria que falava sobre a dificuldade de comunicação entre as pessoas, toda montada em cima de um caso interessante. Um cidadão morador de Brasília perdeu um longo tempo tentando explicar para uma atendente de telemarketing o seu endereço. Ela não entendia e ficou irritada com isso. Em Brasília os endereços são siglas. O camarada dizia “SQN, 240” e ela dizia que não entendia. Ele mora na super quadra norte, 240. Simples. Depois de muita luta ele falou: “É Sapo Quase Nada, 240”. Ela sinalizou que tinha entendido e desligou.
Quando chegou a correspondência, estava lá – “Sr. Fulano de Tal, Endereço: Sapo Quase Nada, 240, Brasília – DF”. A correspondência chegou!!!! O responsável pelos Correios justificou que se o CEP está correto, a correspondência chega. Não é simples? E Tia Memélia ainda vem me dizer que não é tão simples assim descomplicar o complicado!!!! hahahaha
Complicamos as coisas sim. Outra vez ouvi Mário Kértesz contar que pegou um taxi em Portugal e pediu para ir a determinado restaurante. O taxista falou que sim e seguiram viagem. Quando chegaram lá, o local estava com tapumes, em reforma. E o taxista disse “pronto senhor”. Mário disse, mas o restaurante está fechado!”. E foi obrigado a ouvir “o senhor me pediu para trazê-lo aqui!”. O taxista estava certo. 
Tenho prestado atenção para não deslizar nessas situações. Mas ontem foi fatal. No almoço perguntei ao garçom Landinho (esse é o nome dele mesmo!) se tinha café. Ele disse que tinha. Se passaram mais de 10 minutos e nada do café.... Aí eu matei a charada, mas decidi tirar a prova. Perguntei a Landinho pelo café. Na lata ele mandou: “Mas Heitor, você perguntou se tinha!!!”.
Um colega brasileiro não consegue digerir bem isso. Já o outro, Carlos Henrique só faz rir. Mas Cleber é estourado, diz que é absurdo, que angolano não é proativo, que o serviço é ruim, que não tolera. Fui obrigado a discordar dele e dar razão a Landinho. O vacilo foi meu. Eles tratam a comunicação melhor que nós, isso é inquestionável.
Engraçado que apelido aqui é sobrenome. E tem pessoas que têm sobrenomes no lugar do nome próprio. Exemplo – tenho um colega que se chama Almeida Queta. Queta, na verdade era para ser Keta, mas o escrivão trocou as letras. E Keta em kikongo é leal. Em casa os pais o chamam de Leal, que é a sua alcunha. Alcunha aqui é apelido. Então, ou você fica ligado ou se atrapalha.
Do mesmo jeito, aqui tem gente que não tem sobrenomes típicos. Exemplo – o nosso diretor se chama Alfredo José Adelino. Só isso. Nosso motorista se chama Miguel Lino, apesar de que Lino pode ser nome ou sobrenome no Brasil..... A alcunha dele é Alex, e é assim que ele gosta de ser tratado.
Perguntei ao Prof. Queta se ele já tinha visto o novo acordo ortográfico. Vixe, a conversa rendeu.... mas resumindo, não viu, aqui não chegou e acho difícil um dia aquilo chegar e valer por aqui. Continuarão a escrever económia, director, planeamento, assembléia e por aí vai. Ele disse inclusive que o acordo foi uma proposta feita pelo Brasil, mas que não sabe se os outros países de língua portuguesa irão adotar. Ainda estão a avalair. Mas não era acordo? Preferi não render a conversa.  

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Quem não se comunica se arromba, para não dizer outra coisa....

Desde que o mundo é mundo, sempre tem algum lugar em guerra. E na grande parte das vezes a religião está por trás, motivando a pancadaria. Enquanto gostos e preferências não forem respeitados, não teremos paz total no planeta. É como escrevi ontem, basta descomplicar o complicado, tolerar o intolerável, compreender o incompreensível. Simples!
Discutir religião é complicado.  Vamos descomplicar! Vou falar de questões mercadológicas e religião. O marketing religioso ocupa um espaço importante hoje no marketing institucional, que é a área de estudo do marketing no campo das ideias. O que se vende não é um produto ou um serviço, mas um pensar, uma imagem, uma crença. Igual ao marketing político.
Apesar de ter vivido muito recentemente um período de guerra, o povo de MBanza Kongo dá show de tolerância religiosa e paz. O clima de cidade pequena, onde as pessoas se conhecem é muito legal. Totalmante diferente de umas e outras, onde o que mais importa é a vida dos outros. Aqui é cada um no seu quadrado. E nos domingos a fé ferve.
Se algum ex-aluno ler esse texto de hoje vai lembrar que toquei nesse assunto nas nossas aulas de marketing.
Não sei se vocês sabem, mas Edir Macedo, o big shot da Igreja Universal, foi diretor de marketing da Xerox do Brasil por quase uma década. E como homem de mercado, sabe que se posicionar e apresentar diferenciais são chave de sucesso. Brinco sempre dizendo que todos nós somos clientes em potencial da Universal – o slogan deles, para os não-fiéis, ou na língua do marketing, para os prospects é “Pare de Sofrer!”. É fantástico esse slogan, adoro! Parafraseando o presidente, nunca na história desse país se criou um slogan tão certeiro. Totalmente inclusivo! Todos nós sofremos, de uma forma ou de outra. Problemas de saúde, de saudade, falta ou sobra de dinheiro, afetivamente, solidão, perdas e por aí vai. Êita que vai ter gente dizendo que não há sofrimento com sobra de dinheiro!!!!! Vamos aguardar.....
E o bispo e sua igreja crescem a passos largos, com o suporte das ferramentas mercadológicas. O cara dá aula prática!!!!! Sabendo que a comunicação é a ferramenta mais importante do marketing, o que ele fez? Comprou a Record e tem uma máquina de comunicar. Aqui em Mbanza Kongo, no fim do mundo, tem dois templos e a Record Internacional é muito popular. Já falei que aqui Mutantes é mais vista do que Passione? Então fiquem sabendo.... IURD é igual a Coca-Cola, em todo lugar se acha!!! Presente sempre!
Eu poderia escrever páginas e mais páginas sobre exemplos do uso do marketing pela IURD, e a falta dele pelas outras crenças. E os resultados mostram a eficiência da ferramenta. É inquestionável.
Volta para Angola..... pois bem, hoje conversei muito com um padre professor, que dá aulas lá no Instituto. Um cara jovem, culto, estudou no Porto, Portugal. E de uma linha mais moderna da Igreja Católica.
Falei que estudei em colégio de Jesuítas. A primeira coisa que ele me disse foi que a comunidade católica faz piada, dizendo que existem somente três coisas que Deus não sabe. Ele não sabe quantas congregações católicas femininas existem, quanto dinheiro os Salesianos têm e não sabe tudo que os Jesuítas sabem. E se acabou de rir com essa piada sem graça... Mas o assunto é sério, porque não adianta saber muito e não usar o que sabe.
Disse ao padre que achava interessante a Igreja Batista daqui fazer um culto na língua nacional, o kikongo. E ele falou que na igreja dele também fazem missa em kikongo. Show de incompetência mercadológica. Se oferece isso tem que informar, comunicar. Aí está o grande erro da Igreja Católica. Na Batista tem uma placa informando. A Igreja Católica não sabe se vender. E olhe que isso é uma coisa fácil de fazer, pois todos nós sofremos!!! E buscamos algo superior para nos amparar.

Um axé!
Notas:
1)      Esse assunto me interessa muito. Sei que falar sobre crenças é difícil. Mas continuarei a provocar o debate. Hoje, o propósito foi esse.
2)      Estou indócil porque não consigo informação sólida sobre o Candomblé. Estou começando a achar que tem “coelho nesse mato”. Sinto que os angolanos não gostam de falar sobre “feitiçaria”. É assim que eles tratam as religiões matriz. Ainda chego lá.
3)      No marketing existem duas situações valorizadas. Uma é “Sair na frente” e a outra é “Estar na frente”. Quem sai na frente tem vantagem. Os Jesuítas saíram na frente. Edir Macedo está na frente. Captaram?
4)      A discussão é mercadológica. Mas só para esclarecer, sou um ex-cliente católico e simpatizante da Doutrina Espírita. E não fui um prospect captado pelo uso da ferramenta de comunicação cinema, com os filmes Chico Xavier e Nosso Lar!!! Mas vejam como a comunicação é importante!!!! Tem é gente se dizendo espírita....
5)      Saudades do Joanna de Angelis. Me faz muito bem....

 
 

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O Reino do Congo

Hoje é feriado em Angola – Dia do Educador. Finais de semana são complicados aqui. Ontem Henrique me disse que eu sou a única pessoa que não gosta de fim de semana e pior ainda quando é prolongado!!!!! Em MBanza Kongo eu não gosto mesmo não!!!! Pelo menos morando em hotel é chato demais. Em casa é bom.....

A nossa casa continua em obra e o ritmo continua lento. O hit do momento ainda é: “Ritmo, é ritmo de festaaaaaa”. Um mês no topo das paradas de sucesso!!!! Ninguém merece... Lá na casa tem bastante espaço, terra vermelha, vou fazer uma horta. Dá para fazer também uma jardinagem bem legal na área da frente. Já tenho muitas horas de trabalho garantido para os finais de semana no retorno em 2011.

Estou ficando um pouco preocupado com o rumo do blog. Sou muito curioso e inquieto, o que me faz buscar aprender algo novo, todos os dias, sobre a cultura e as coisas daqui. Gosto de escrever sobre isso. Diferenças, semelhanças. Isso interessa e agrada à maioria, pelos feedbacks que recebo da galera. Acho que por mais que fique aqui, esse grande tema é inesgotável. Porém tenho receio de ficar cansativo. Aceito sugestões...

Já os textos “poéticos” como diz Cissa, são comentados mais por quem é da minha cozinha. Cissa curte bem mais os poéticos. E é ácida nos comentários sobre cultura. Quando vocês não encontrarem comentário dela no blog é porque ela foi “discreta” e fez por e-mail!!!! Escrever sobre minhas emoções tem sido muito bom para mim. Sempre fui muito egoísta com meus sentimentos. Democratizar o meu EU tem sido uma vitória...

Hoje vamos falar rapidamente do passado dessa região daqui. Uma aula de história vai esclarecer algumas coisas. Se eu, que estou aqui, demorei a entender essas confusões todas, imagino a cabeça de vocês como fica – "Heitor foi para Angola, mora no estado (que aqui chama província) do Zaire em uma cidade chamada MBanza Kongo!!!!!" Mas o Congo não é um país? Vixe, é confuso mesmo! Vamos esclarecer...

A região da África onde estou era chamada antigamente de Reino do Congo, ou Império do Congo. Esse reino era muito grande, englobava o que hoje é o noroeste de Angola (estados do Zaire e Cabinda), a República do Congo, a República Democrática do Congo (sim, são dois países com o mesmo nome!), além do centro-sul do Gabão.

Para se posicionar, ache Angola no mapa e veja os três vizinhos que estão acima....essa é a região do Reino do Congo!


A República do Congo também é conhecida como Congo Brazzaville ou Congo Pequeno. Brazzaville é a capital. Lá se fala francês.

A República Democrática do Congo, também é chamada de Congo Belga ou Congo Kinshasa. Kinshasa é a capital. Esse era o país que se chamava Zaire e foi extinto. Era uma possessão pessoal de Leopoldo II da Bélgica e se tornou independente em 1960. A língua oficial é o francês. A divisa com esse país fica bem perto daqui - 68Km. Lá tem uma Zona Franca, pretendo ir até lá antes do retorno pra casa.

O Gabão tem Libreville como capital e lá também se fala francês.

Esse reino foi fundado por Ntinu Wene, no século XIII. Ah, vamos fazer um pit stop para aproveitar e aprender que muitas palavras aqui têm um N ou um M na frente que se pronuncia "meio mudo". Ou seja o cara que fundou o Reino do Congo, no Brasil se chamaria Untino, com o "Un" pronunciado de boca fechada. É estranho, mas é fácil. Mas podem chamá-lo de Tino mesmo! Cidade é Mbanza, se diz Umbanza, ok? Albino é Ndundo. Porco-espinho é Ngumba. Vão exercitando hahahahah. É legal!!!!! O nome do gerente do hotel é Ngumba. Perguntei a ele o significado e ele me disse que era o nome de um bicho perigoso, não soube me explicar. Nunca iria imaginar. Dei várias alternativas... nada. Meus alunos esclareceram e tive uma crise de riso – o cara se chama Porco Espinho, talvez o apelido seja Ouriço Cacheiro!!!! Erethizon dorsatum, sabia essa pai???? Guarde aí!

Sim, voltando ao assunto do reino... A capital do império era Mbanza Kongo, que significa então, Cidade do Congo. Quando os portugueses chegaram a rebatizaram como São Salvador do Congo, assim como converteram o rei e o reino ao catolicismo, mais ou menos no século XVI. Com a independência de Angola em 1975, a cidade voltou a se chamar MBanza Kongo.


Diz a lenda que Mbanza Kongo, como capital, era o centro nervoso de toda essa extensão. Se falam em 100 mil habitantes naquela época!!!!! A guerra espalhou todo o povo. Hoje a cidade tem 30 mil habitantes. E de ruína, só tem a Igreja que já citei em outro texto. Mas continuam a procurar a cidade antiga. Acho que é igual a Atlântida....por isso, para mim é lenda...

Ôpa! Que som é esse? Putz, acabei de ver no Programa do Jô a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, regida pelo Maestro Forró. Êta Brasil bacana. Uma sonzeira que vocês não acreditam!!!! http://www.opbh.com.br Confiram! O diretodeangola recomenda! Nas minhas barbas e eu nunca tinha ouvido falar!!!! Foi preciso viajar a MBanza Kongo para conhecer. Sei não.....

Um Axé viu?

sábado, 20 de novembro de 2010

Significados


É impressionante como as pessoas complicam as coisas. As vezes é tão simples, mas criamos monstros onde não cabe. Por isso cada vez mais curto a Doutrina Espírita.

Já planejava escrever sobre questões espirituais. Mas faltava alguma coisa. O post tava quase, mas faltava um pedaço. Aí volto para o quarto, ligo a TV sem maiores expectativas e enquanto espero o netbook iniciar, ouço Marília Gabriela dizer:

"Se tiver que amar, ame hoje. Se tiver que sorrir, sorria hoje. Se tiver que chorar, chore hoje. Pois o importante é viver hoje. O ontem já foi e o amanhã talvez não venha."
André Luís, por Chico Xavier.

Pronto! Obrigado André Luís! Agora o post sai....

A minha decisão de trabalhar na África foi infestada de opiniões. Se eu fosse dar ouvidos ao que a galera disse eu estava agora na Bahia, acreditando que isso aqui é o fim do mundo, que é impossível manter um casamento e uma família estando fora de casa, que iria ter paludismo ou doença do sono e por aí vai. Realmente, não seria nada mal nesse momento estar em Imbassaí com toute la famille reunie, como dizia Vó Nancy (pesquei essa de Memélia hehehe, nem lembrava mais...). Pegar onda, jiboiar, comer e beber bem e estar com os que eu amo. Não deu dessa vez, mas teremos tantas outras oportunidades!

Se colocasse em uma balança as opiniões que ouvi, não viria. É sério! Engraçado que essas opiniões foram todas de gente que tinha uma visão preconcebida. Já falamos sobre isso...

A decisão foi difícil. Dificílima. Com todas as letras. Fiquei atordoado. Tive crises de choro sozinho. Várias. Deprimi. E quem me conhece sabe que nunca fui prá baixo. Morri de medo que a vinda destruisse minha família e a emenda fosse pior que o soneto. Só que precisava viver isso. Para crescer como pessoa, como profissional, como pai, como marido, como filho, como amigo, como irmão. Como espírito.

Todas as opiniões foram importantes para eu construir a minha decisão. Mas eu não vou falar dos que me disseram que era maluquice. E nem me lembro de todas as pessoas que escutei.

Cissa foi uma incentivadora, me deu segurança e apoio. Henrique disse que não se importava, mas só queria saber quando eu voltava. E Cissa falou todo o tempo que eu tinha alguma questão para resolver aqui. Aliás, basta estar com as questões espirituais trabalhadas de alguma forma para entender isso. Lá no Joanna de Angelis ouvi várias vezes, e de várias formas que se alguma situação é colocada no seu caminho, é porque você precisa viver aquilo.

Duda e meu pai são defensores da visão de longo prazo. O que mais preocupa os dois é a estabilidade futura. Respeito muito o pensamento deles. E eles respeitam nossas diferenças, mas ficam apreensivos. Normal, é o instinto protetor. O próprio Duda diz que nossa vida é consequência das nossas escolhas. Esse é um pensar espírita. Sábio meu irmão.

Minha mãe descompensou. Deprimiu também. Eu soube. Mas comigo foi positiva. Beta incentivou, Memélia e Tatá também.

Da parte da casa de Cissa foi a mesma coisa. Uns com medo, outros colocando pilha. Mas teve sofrimento. Sei o que cada um pensa.

Michel me contou das conquistas do irmão dele que já está aqui há três anos. Repetiu “Se jogue Heitor!” várias vezes. Foi decisivo. Jorge William, em um longão de corrida pela orla em um sábado, falou de um ex–colega nosso, que só teve crescimento aqui. Beto botou pressão e vibrou. E meu primo Guilherme Neto, que sempre uso como conselheiro e sempre acerta, deu um suporte massa na minha escolha. Até com o exemplo dele, que mora fora de casa há dois anos!

Tenho metas. Defini um tempo para ficar aqui. Uma quantidade de dinheiro para ganhar e empreender na Bahia. Correr minha primeira maratona em 2011, no Rio. Continuar estudando. Ajudar a quem precisa.

E vou até aproveitar para revelar uma meta muito íntima que ganhou forma e força com a minha vinda para a África - ser faixa preta de Jiu Jitsu no ano que fizer 45 anos. Até 2014! Êita que uns estão sem entender e outros dizendo que estou sonhando..... Mas é verdade! Esse ano fui 3º lugar na Copa do Mundo de Jiu Jitsu em Salvador e Zé Mário me deu a Faixa Roxa, penúltima da nossa arte suave. Com a minha “purple belt” já sou instrutor. Zé sabe que dar aulas faz parte da minha natureza. Meu personal, Bruno “Inhonho” também sabe. Zé me confiou a missão de fincar a bandeira Zé Mário Team na África. Como em Tropa de Elite, “Missão dada é missão cumprida”. Já está fincada Sensei. Essa semana já vou puxar um treino com os alunos do instituto. O Jiu Jitsu me faz bem. Então vou correr atrás da minha meta. E da minha felicidade. Corra atrás da sua!

Talvez esteja esquecendo alguém que apoiou. Desculpem! Os que foram contra podem ficar tranquilos, a opinião de vocês também foi importante. O certo é que ainda não descobri o significado, ou todos os possíveis significados dessa vinda para a África na minha vida. Tenho certeza que é para fazer o bem. Sei que tem também relação com meu crescimento e com a oferta de conhecimento técnico. Só que estou aprendendo muito mais do que ensinando!!!! Então preciso agradecer a Deus! Obrigado!!!!!

Vamos em frente.... Vivam. Eu estou vivendo aqui! E para mim está sendo muito bom, podem acreditar!

OSSSSSSSSSSSS

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Acorda cultura!

Passar uma temporada longe de casa tinha que ter pelo menos uma coisa legal. Sozinho posso dormir com a TV ligada. Todos os dias! Cissa não tolera. Eu me amarro. Pela paz, nem TV no nosso quarto colocamos.
Hoje quando abri o olho tava começando um programa que nunca vejo no Brasil, o Ação, na Globo Internacional. O programa de hoje: A cor da cultura.
Em uma daquelas “sacadas” dos publicitários, que vivem tentando ser espetaculares, saíram com esse nome para o programa. A ideia era “brincar” com “a cor da”, que sem espaço vira “acorda”. A edição de hoje tentou mostrar, mais uma vez, como a África influencia a cultura baiana. Nas mais variadas manifestações. No final minha conclusão - não aprofundaram em nada, muito pelo contrário, foi tão raso que chegou a irritar.
Eu até tento dar outro direcionamento para meus textos, escrever sobre as mais variadas coisas, mas não consigo me calar diante do que vi. Serginho Groissman é até um cara que tem algum conteúdo. Tenho assistido “Altas Horas”, que aqui na África não é transmitido de madrugada como aí no Brasil. Gosto do modelo, com duas bandas, sexóloga, artistas, atletas, intelectuais, platéia interagindo, tudo misturado, Sai coisa legal. Outro dia, por exemplo, teve Charlie Brown Jr e Luan Santana, Rock e Sertanejo, e foi bom. A fusão pode sim ser bacana.
Só que o Ação de hoje foi mistureba. Daquelas indigestas. Vamos lá.
Teve Dadá falando da influência da África na comida. Ela até que cozinha legal, mas fracassou no discurso. Se limitou a falar de adaptações das “comidas de santo”, do dendê que dá “cor, perfume e charme” aos pratos. Falou do ato de muquiar a folha de banana, ação de “passar toda a energia do fogo” para o que será a base de alguns pratos. Por fim, disse que “não se bate os temperos no liquidificador para não perderem a força”. Segundo a maga da nossa fantástica comida baiana (A-D-O-R-O-!-!-!, não Dadá, a comida), o tempero tem que ser cortado e amassado com faca e machucador, "para passar todo o amor e força da Bahia". Me poupe. Não falou nada de influência. Dadá deveria ficar na cozinha. Rende melhor....
Vi também um historiador e uma antropóloga, esses dois sim falaram rapidamente e passando firmeza, sobre tribos e etnias que foram levados da África para o Brasil na época da escravatura. Só os de etnia Bantu, saíram de regiões geográficas onde hoje estão Angola, República do Congo, República Democrática do Congo, Moçambique e até a Tanzânia. Eu que pouco andei só em Angola, já percebo as diferenças na comida, na língua, no vestir de uma província para outra. Imagine de um país para outro. A Tanzânia tá do lado de lá da África gente! Tô até querendo ir lá ano que vem, uma pequena aventura, depois eu conto. Convite do Dr. Nelson Salles Neto, amigo Piaba, do Vieira.
Depois vou transmitir a aula que tive ontem sobre o Antigo Reino do Congo. É massa que poderemos esclarecer um monte de dúvidas sobre Congos em geral.
Os escravos da etnia Bantu foram vendidos e se concentraram basicamente no Rio e em Minas.
Os que foram levados para a Bahia, o tráfico negreiro dividia em Malês, Nagôs e Jejes. Essa galera veio de regiões onde hoje estão Costa do Marfim, Benim, Togo, Gana e Nigéria. 
Vamos esclarecer então:
Os nagôs falavam iorubá e eram das tribos Ketu, Egba, Sabé.
Os jejes eram das tribos Fons, Ewés, Fanti.
Os males falavam a língua hauçá e seguiam a religião muçulmana. Os Hauças habitam a Nigéria, mas se espalharam pelo continente inteiro. Existem hoje concentrações Hauças em Gana, Costa do Marfim, Sudão e República dos Camarões.
Além dos Malês, também foram trazidos para a Bahia escravos de outras etnias islamizadas, como mandingas, fulas, tapa, bornu.
Voltando ao programa, na sua parte final, teve Vovô do Ilê. Não o conheço pessoalmente, mas sei que ele tem um trabalho atuante e importante na Senzala do Barro Preto, na Liberdade. Sei também que o seu trabalho tem como lastro a autoestima do povo de pele negra e isso deriva para a música, a dança, a moda, e um conjunto de manifestações que no final das contas resulta no que é o Ilê Aiyê hoje. Apesar de ter começado como forma de protesto contra os blocos de carnaval em que não desfilavam negros, a entidade atualmente tem escola, cursos profissionalizantes, oficinas de música, teatro, dança e por aí vai. Só que na hora em que terminou eu perguntei “sim, e as origens africanas????”
Deusas do Ilê
Se aqui em MBanza Kongo eu disser a um angolano que a casa da minha avó em Itapagipe não era nenhuma biboca, tinha sapoti e jabuti, se comia cuscuz, bolo de aimpim, de tapioca, de puba e pamonha porque nunca estivemos na pindaíba, o que acontece? Provavelmente ele só vai saber que tudo isso rolava na casa da minha avó! Nada disso é do africano, gente, é do índio. O povo original do Brasil.    
Gente, tô terminando o texto com a TV ligada (lógico!) e acabo de ouvir Evaristo, repórter que apresenta o Jornal Hoje, que aqui passa 18h, dizer que a Globo, em parceria com o Ministério da Educação está fornecendo o material da série “A cor da cultura” para ser utilizado pelas escolas. Basta solicitar ao MEC. Alguém peça aí, para fazermos uma análise mais apurada disso!
Ninguém vai dizer que o iorubá é do índio. É da África. Ninguém vai dizer que quando os escravos rezavam, dançavam nas senzalas não faziam exatamente como na África, sua terra mãe. O arroz de hauçá é da África sim!!! Não dá para contestar a maioria negra da Bahia. Não dá para não buscar associações e origens. Mas também não dá para aceitar tanta fragilidade na informação. Pode até ter gente que não liga, tem coisa mais importante para se preocupar. Só que eu estou na África. Sei que uma parte nossa veio daqui. Não é da minha natureza adiantar o lado sem procurar entender o passado. E hoje tenho muito claro na minha cabeça que passado, presente e futuro estão ligados, são inseparáveis. Aí é uma outra conversa....

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Paciência

Eu e meus arrodeios.....
Primeira de Luxo!
Tinha preparado um texto bem interessante, ainda sobre a discussão sobre as influências da África na cultura baiana. Faltavam uns arremates e a minha pesquisa foi interrompida pela euforia tricolor. O retorno do Bahêa à série A impactou até na minha rotina de escrever!!!! São 4 horas de diferença a mais no horário. Na hora angolana o jogo começou meia noite, acabou 2 da manhã e a resenha no rádio e com Henrique e Cissa foi até depois das 4. Quase amanheci o dia com o acesso...
Ao todo foram 7 anos de amargura. Nasci torcedor do esquadrão, mas terminei me aproximando mais do meu time e acompanhando de perto nos últimos anos por amor ao meu filho, que é literalmente F-A-N-Á-T-I-C-O. As influências de Tio Carlinhos e do Avô Clarindo foram uma lenha importante para essa fogueira azul, vermelha e branca.  Henrique está com 13 anos e nunca viu o Bahia ganhar nada. Paciência. Foi um longo exercício de paciência, com gestões incompetentes, com falta de visão mercadológica e de compromisso. Mas principalmente com comentários da torcida rival. Paciência. Era aí que eu queria chegar.....
É paixão antiga!!!!!!
Quando soube que viria para Angola, nada mais natural do que buscar informações com pessoas experientes sobre o país, particularidades do seu povo, da sua cultura, os riscos, as doenças tropicais, a concentração de renda, falta de saneamento, a miséria da maior parte da população e os seus efeitos no cotidiano do país. E eu corri atrás. Pesquisei.
Confesso que ouvi e li coisas de muita serventia. Mas teve tanto terrorismo, tanta fantasia. Falei rapidamente sobre isso já. Estive agora em um mercado pequeno ao lado do hotel e vi que chegou hoje sabonete Protex, Leite Moça e Creme de Leite Nestlé, além de chocolate Serenata de Amor. Depois falarei mais sobre produtos e marcas. Tem muita gente que curte fazer espuma, criar uma coisa que não existe. Não vejo motivo para isso...
Só que uma coisa é certa. Quando você sai do Brasil e vem para Angola, o que não pode faltar na sua bagagem é a paciência. Como diz meu chefe, é preciso sair da sintonia do Brasil e conectar na de Angola. A velocidade daqui é outra. E não dá para reclamar.
Logo quando cheguei, fui em uma padaria legal lá no Maculusso. A conta deu 800 kwansas. Paguei com uma nota de 1000 kwansas. A caixa disse que não tinha troco. Eu fiquei esperando. Ela então me disse: “Senhor, desculpa, não entendeu? Não tenho troco, como é que ficamos?” Devolvi a compra, agradeci, peguei o dinheiro e fui embora.
Mbanza Kongo tem pouquissimas ruas asfaltadas. O resto é tudo de barro. Então já sabe: quando faz sol tem muita poeira, quando chove tem muita lama. Eles chamam de lôdo. Assim, o nosso carro está sempre sujo! Hoje lavou. No caminho para casa sujou todo de novo!!! Fazer o que?
Sabe aquela história clássica do atendente despreparado que quando perguntado se tem determinado produto responde “tem, mas acabou!“? Aqui isso é o normal.... todo dia tem resenha, pedimos suco de laranja, o garçom comanda, vai lá e volta dizendo: “desculpa Heitor, só tem ananás”. Se você se chatear ele simplesmente dá as costas e “basa”, cai fora..... Ninguém merece.
E isso está acontecendo porque continuamos a morar no hotel - a casa continua em reforma. O empreiteiro disse que seriam 10 dias. Já estamos caminhando para um mês, e pelo ritmo acho que volto ao Brasil sem habitar minha casa angolana. Todo dia vou na obra e saio cantando "ritmo, é ritmo de festa!". Cleber e Henrique se acabam de rir. Reclamamos, dizemos que precisamos pelo menos da cozinha pronta. Não adianta de nada. Eles têm o ritmo deles e pronto. Paciência. Não tem concorrência. Quando tiver começa a melhorar..... 
Ontem falava com Cissa no MSN e faltou luz um monte de vezes. Normal aqui. E voltou. Só que na volta, os canais da parabólica desconfiguram. Aí tem que esperar o técnico. No outro dia. E você fica limitado a dois canais – a TVA, canal público da Angola, e um canal português. Eu doido para ver Globo e Record Internacional.  
Semana passada aconteceu uma situação interessante. Na cozinha do hotel sai um espaguete com dois tipos de calabresa e frango. Não é nenhuma maravilha, ainda mais para mim que tenho um padrão de exigência maior para pastas, graças ao meu meio sangue italiano. Vô Ferrari, me desculpe, mas a falta de opção aqui é grande. Fomos pedir para o garçon para fazer sem frango. Ele se irritou porque o prato é espaguete com calabresas e frango. Insistimos e “ele pegou ar”. Perguntou “como posso tirar o frango se o prato é espaguete, calabresas e frango?” Deixe para lá Landinho, traga como quiser!!!
Lembrei de uma certa feita, em uma pizzaria no interior da Bahia, mortos de fome, tinha no cardápio uma portuguesa – queijo, presunto, ovos e cebola. Pedimos sem cebola. Porra, a atendente estressou, pensou que estávamos sacaneando. Ele travou. Insistimos. Ela disse que era impossível tirar a cebola. Tivemos crises de riso. Foi uma novela até decidirmos e depois de muito tempo, vendo que não rolaria portuguesa sem cebola, pedimos assim mesmo. Quando a pizza chegou, vocês não vão acreditar. Eram 8 pedaços. Dois de queijo, dois de presunto, dois de ovos, dois de cebola!!!!! Outra crise de riso!!!! Isso aqui em Angola seria considerado normal.
Tem ou não que ter paciência?
Little patience, yeah
Need a little patience, yeah
Just a little patience, yeah
Some more patience, yeah

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Novos mercados

12 de novembro

MPLA, o partido do presidente
Ontem foi a comemoração da Independência de Angola. Estive no local onde se aglomera o povo para o ato político. Fiquei  impressionado com as demonstrações de patriotismo e alegria das pessoas. Tanto de crianças como de adultos e idosos. Confesso que tive inveja. No brasil o patriotismo só aparece em situações pontuais. Na copa do mundo. Ou quando algum gringo se arrisca a criticar algo nosso. Ou com argentinos. E só.

As escolas todas enviam seus alunos que caminham alinhados como uma tropa. Polícia, exército, bombeiros, grupos religiosos. Mistura tudo. Vi muitas bandeiras do MPLA e UNITA. Esses são os partidos mais atuantes. Muitas mulheres da OMA (Organização das Mulheres Angolanas) nos seus trajes típicos.
Unita, o partido de oposição

Mulheres da OMA

Os discursos foram em kikongo e português, com tradutor. Só que o microfone do tradutor do português estava tão baixo que achei ser proposital. Aquele é um movimento deles, dos que falam kikongo. Aos outros pouco importa.
Não pude tirar fotos. A polícia não permite tirar fotos de políticos. Fomos orientados a não arriscar. Nem de longe. Quem vai querer problema com polícia, ainda mais estrangeiro.....
Como hoje foi ponto facultativo, já sabe, não teve trabalho. Fomos resolver algumas coisas da reforma da casa. E depois pedimos ao nosso motorista para dar uma volta. Aí o “caboclo” do profissional de marketing incorpora e começam as viagens....
Saímos um pouco do centro. E é assim que você vai conhecendo melhor as coisas, vendo possibilidades. Logo de cara, qualquer um vai ver que Mbanza Kongo tem um potencial turístico imenso. Claro que depende de vontade política, pois com o aeroporto fechado há 3 anos, não dá para explorar esse filão. O acesso por estradas é pessimo, já contei isso em outro post. Mas o aeroporto é legalzinho, se funcionasse era beleza. A pista do aeroporto é que está ruim, a ser reformada. A estrutura hoteleira também não ajuda. Mas isso se cria.
O apelo histórico e cultural, também já comentado aqui, sozinho, já tem potencial para gerar uma demanda legal. As ruínas da igreja, o cemitério e o museu dos reis do Congo podem ser atrativos interessantíssimos. Têm conteúdo rico!
Mas a quantidade de verde, de serras, de riachos, de trilhas no entorno de Mbanza Kongo apontam para um outro segmento turístico a ser trabalhado. Tirolezas, rappel, quadriciclos, trekking, arvorismo e por aí vai. Mas claro que é preciso criar essa demanda, trazer turista.
Outra coisa interessante que você encontra fácil por aqui são memórias da guerra. Tem gente que curte essas coisas! Um dia desses vi uma reportagem com João Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso, que mostrava a sua coleção de jipes de guerra. Ele tem alguns!  Do mesmo jeito, assisti também um documentário sobre os turistas que vivem experiências nas favelas do Rio. Acho que teve até uma novela que mostrou isso....
João Barone e seu Jipe 1944
Quando dava aulas no curso de turismo e até mesmo enquanto escrevia a dissertação do mestrado, que é sobre segmentação e demanda turística, lembro que li que em alguns destinos existe a exploração desse mercado, do turismo de reconstituição de guerra. É cada gosto, que não sei não. Mas como diz a Cunha que vendeu carro durante muito tempo, tem cliente para todo tipo de produto. Sempre tem alguém para comprar. Para cada pé doente, sempre tem um sapato velho. E por aí vai.
Ói eu no tanque! Foto tirada hoje de manhã.
Perto desse tanque tem uma área isolada por fitas plásticas sinalizando que ali ainda existem minas ativas. De vez em quando um curioso vai lá e se arromba! Eu não tenho a mínima vontade de viver essas aventuras, mas tem gente que curte. Cada um com sua doideira..... Giovanni nosso webmaster gosta! Booooooom!
Pois é, a guerra acabou tem só 7 anos. A Independência foi em 1975. E ninguém acordou ainda que se criando condição, o turismo pode ser um caminho interessante para Angola. Dizem que mais de 80% do PIB da Espanha é decorrente da atividade turística. Aqui deve ser perto de 0%.
E convenhamos, ainda tem aqueles adeptos do turismo exótico. Visitar Mbanza Kongo, é exótico demais!!! São poucos quilômetros da divisa da República Democrática do Congo. Montanha dos Gorilas. E aí já é um outro filão de mercado.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Lendas, parte I

11 de novembro
Hoje é feriado nacional, Independência de Angola. 35 anos de emancipação.
Não vou escrever sobre Angola. Diretamente não. Quero criar uma polêmica, e vou usar como personagem meu “cumpadi” e melhor amigo, Beto Cachorro.
De origem humilde, para mim sua família sempre serviu como exemplo. De resistência, de luta. Eles são a prova de que o bem sempre vence. Beto e os irmãos perderam o pai muito cedo. Dona Valquíria criou 6 filhos com muita batalha e trabalho, uma mulher de fibra. Todos gente muito boa. Dois já nos deixaram, Márcia e Davi. Ficaram quatro – Zé André, Alemão, Hélio e Beto. Alemão, ainda vou falar em outra oportunidade sobre essa figura, meu amigo Ndundo.
Beto é meu amigo de infância. Crescemos juntos, em momentos estávamos mais próximos, em outros nos afastávamos. Mas temos muitas afinidades e elas sempre se encarregaram de nos unir. Aprendemos a surfar juntos nas ressacas e marés de março na Cidade Baixa. O surf continua nos unindo mesmo depois de tantos anos e quilos a mais, principalmente os dele!!!!! Está nas nossas almas. Uma das coisas mais prazerosas para mim é ir surfar com quem eu gosto. A resenha dentro d´água é diferente!
Sempre gostei muito de cavalos. Beto também. Heranças de família. A dele é toda da região de Serrinha, a capital da vaquejada. Nossa, perdi as contas das festas de gado que fui com Beto. Fizemos muita farra, viajamos muito. Surfamos até ficar mole. Vivemos muito juntos. E essa convivência fez Beto me conhecer como poucos. E eu a ele.
Existe algo superior entre nós. Incrível isso. Certa vez, em um domingo, estava em casa no início da noite, aquela moleza, não tinha programado nada. Iríamos ficar em casa. Henrique era um pivetinho ainda, curtia ir na casa dos avós no Bonfim. Chamei Cissa para irmos lá, ela não topou, estava cansada. Alguma coisa dizia que eu precisava ir. E fomos, eu e Henrique. Quando ia chegando, por instinto liguei para Beto. Ele tinha acabado de ser atropelado quando saia de moto da casa de Elane. Um carro todo apagado, na contramão pegou ele de frente. Estava no pronto-socorro de Roma. Alguém levou ele até lá. Larguei Henrique com meus pais e corri para lá.
Ele tinha tomado umas cervejinhas, é verdade. Também vinha sem capacete, de bermuda e chinelo. Segurança zero. Irresponsável!!!! Como sempre teve moto e é um capoeira cheio de manha, Beto escapuliu salvando o corpo da porrada e deixando a moto bater. Só que errou por pouco no cálculo. Sobrou para o pé, que bateu e quebrou o farol do carro. O resultado foi um corte muito profundo e algumas raladuras.
Para variar, o posto médico não tinha material. Coloquei ele no carro e seguimos para o Santa Isabel. Era a opção mais próxima indicada pelo plano de saúde. Sangue, muito sangue. O tapete do meu carro ficou lavado. Ele preocupado com o carro e eu preocupado com anestesia que ele iria tomar, ou não, já que tinha usado álcool.
Quem conhece a peça, sabe que é muito difícil ver Beto falar sério. Nesse dia, eu presenciei ele falar mais ou menos sério. Ele disse: “Colega, vou falar duas coisas para você agora. Pode anotar aí: Primeiro, nunca mais subo numa moto. Segundo, nunca mais eu bebo.”  Aquela foi a última moto dele, realmente. Mas Beto não parou de beber! Ele adora! Hahahahaah. Tá liberado irmão, o acidente não foi por causa da cerveja!
Temos algumas divergências que não chegam a comprometer a nossa amizade. Beto é Vitória, eu sou Bahia. Beto é apaixonado por capoeira, eu gosto de Jiu Jitsu. Aliás, Cachorro é o seu nome de guerra da capoeira.
Várias vezes aconteceu de estarmos em algum local, em alguma vaquejada e quando ouvia um toque de berimbau, Beto parava tudo. E dizia: “eu vou aqui”. Tirava botas e esporas e ia para a roda jogar! Isso sem contar quando sumia sem avisar. Nem me preocupava mais. Quando o povo perguntava por ele eu dizia: “Pode procurar na roda de capoeira. Ele tá lá!” Beto diz que o som do berimbau é mágico, que ele não consegue controlar o impulso e tem que ir jogar. E joga bonito, joga com alma.  
Pois é amigo, eu usei você como personagem para tentar entender e explicar mais uma coisa. Pensei que aqui iria encontrar capoeira. Você pode saber muito, é formado, quase contra-mestre. Mas eu sou curioso. Esperava encontrar algo diferente ou interessante pelo menos sobre a capoeira-angola, manhosa, cheia de mandinga, quase no chão, lenta, perigosa. Queria poder tirar uma onda com você, por ter vindo no berço da sua capoeira. Que nada!!!!! É tudo lenda parceiro! Se tem não vi. E pelo que pesquisei, quem comanda a capoeira em Angola é a galera da Bahia. Abadá Capoeira, Mestre Camisa, do grupo de Henrique, meu filho! Vê se pode?
A capoeira nasceu foi na Bahia! Pode até ser cria dos escravos, mas não é angolana, é brasileira, baiana. Nasceu nos quilombos, da resistência. A mesma que fez de você um cara do bem. Guerreiro. Vitorioso. Salve!
Beto é casado com Elane e eles têm uma filha, Luiza, nossa afilhada que ainda não batizamos. Hoje moram em Maceió. E nos nossos corações.