domingo, 24 de outubro de 2010

Terapias

24 de outubro de 2010
Ontem fui dormir feliz. O meu Bahêa ganhou de goleada do Asa de Arapiraca e segue forte para a primeira divisão. Rick ficou eufórico, com toda certeza. Apesar de que Cissa disse que levou ele ao shopping com a galera da escola...  tá de treta....
Acordei tarde. Mas bem disposto. Fui dar a minha primeira corrida em solo africano. Aí era inevitável lembrar de Alexandre Huang, o “Monstro”, treinador da Marathon Club, o meu grupo de corrida. Fiquei pensando como seria se pudesse captar energias dos grandes corredores africanos, ou até mesmo dos animais selvagens super velozes que moram por aqui. Como seria bom passar voando pelos colegas mais rápidos do grupo e dizer “tchau!”. Sonhar é bom porque não pagamos nada.... Mas o treininho foi legal, 45 minutos. Estava e está quente, igual a Salvador. Monstro, a idéia é chegar aí fininho. Robinson, me aguarde....
Saindo para o meu primeiro treino africano. Go Marathon!
Dizem que quem corre não precisa de terapeuta. Acredito nisso. E hoje já fiz a minha sessão. Vi muitos pardais. E aí é inevitável lembrar das tantas vezes que ouvi meu pai repetir histórias desse passarinho quase onipresente. Meu pai tem várias dessas histórias. Ele conta que Aurino (nosso funcionário dinossauro lá do Pau D´Arco) diz que ninguém pode assistir à missa na igreja de Olindina por causa dos pardais. Eles fazem cocô lá de cima, sujam tudo. As beatas não têm mais direito de participar do culto. O padre teve que fechar as portas do templo.
Meu avô Heitor, pra variar, dizia que não existiam pardais no Brasil e que os portugueses fizeram o favor de importar esses bichinhos. E meu pai conta que o avô dele, o “Biso”, amante da natureza, ficava chateado porque os pardais espantavam todos os pássaros nativos. Principalmente os cantores. Já que estamos a falar de animais de pena, depois de uma semana em Angola, finalmente vi uma Galinha de Angola!!!! O nosso coquém, ou tô fraco. Pensei que galinha de Angola era mais uma lenda brasileira, assim como a do candomblé. Opa, esse é um assunto que demanda um post específico.
Vi também pássaros diferentes, bem parecidos com canários da terra, só que azuis. Muito bonitos. Devem ser primos. Vi garças também. Tudo aqui na vizinhança, no bairro chamado Projecto Nova Vida.
Como corri pelo bairro, vi algumas casas com cachorros. E percebi que as pessoas curtem Boxers por aqui. Lembrei de Diamond e Angra, ancestrais de toda uma geração desses cachorros que só tem aparência de mal. São verdadeiros bebês gigantes. E aí vejam como um pensamento puxa outro. Ontem quando postei fotos no Orkut, Lisco, um velho conhecido da Cidade Baixa mandou um recado quase que online, dizendo que na Ribeira tem um cara que tem um Mustang GT. Ninguém merece Bienal! E ele era apaixonado por Diamond. Assoviava lá da casa dele e Diamond ficava alucinado no canil. Esses dois personagens têm muitas histórias. Papo para outro post.
Lembrei de Chang. Cissa, Henrique e todos os humanos sabem que dei uma saída, mas volto. Mas o que será que ele está pensando? Cissa disse que ele ficou triste essa semana. Não quero tristeza nem na minha casa e nem na de ninguém daí do Brasil. Pedi e peço sempre para darem atividade a ele. Por favor, botem ele para suar!!!!!
Lembrei da galera lá da fazenda, a velha guarda em especial. Os nossos vaqueiros, já desencarnados Zeca e Arthur diziam que quando a coruja “mija” no olho de qualquer planta, não tem essa que fique viva. E vi até um corujão uma noite dessas. Lembrei de Henrique na sua fase Harry Potter. Edwiges. Falei dessa história da coruja porque percebi que em Angola, em particular aqui em Luanda, muitas casas têm uma poda nas árvores interessante. Eles cortam o “olho” da planta, que engrossa no caule e fica com galhos desproporcionais, bem mais finos. Bonsais gigantes? Opa, outro post em vista, o dos Baobás. Em breve.
Hoje é domingo. Permitam que eu me alongue. Terapia.
Vi um monte de chineses que trabalham na construção civil. Domingo, quase meio dia, os caras estavam a todo vapor levantando casas. Todos esses caras têm problema com a justiça, cometeram crimes leves e a pena é convertida em trabalho. Em Angola. Ganham 300 dólares por mês e trabalham pesado, 15, 16 horas por dia. Lembrei de minha mãe. “Miséria atrai miséria”. Moram em containers em situação que dá pena. Mas o que será que esses caras fizeram para estarem passando por isso? Vou me aprofundar nessa parceria China-Angola e quem sabe não proponho uma solução parecida para a nossa população carcerária? Polêmico isso....
Rapaz tudo isso foi correndo! Correr é uma terapia. Obrigado Marathon Club. Obrigado Monstro! Por enquanto não vou precisar ir ao terapeuta.
Vou almoçar aqui na casa mesmo. Rolou uma “vaquinha” para fazer uma macarronada. Tô firme na dieta, evitando o glúten. Eu disse evitando! Mas hoje é domingo. Amanhã eu compenso e fica tudo certo.
-------------------------------------------------------------------------
A macarronada não estava lá essas coisas.... aliás, estava horrível.... meu Vô Ferrari não me perdoaria. Mas estou na África, deixa para lá!
Depois do almoço, fomos ver a praia de Luanda. Rapaz, a Ribeira e o Canta Galo dia de domingo perdem feio!!! A galera daqui curte mesmo. É carro na praia, muita música, dança, churrasco, cerveja. Reggae monstro!! Pesadão mesmo. Mas tudo na paz. O povo de Angola é feliz, faz festa mesmo. Apesar de tanta muvuca, não se vê confusão. Mas o povo faz xixi na rua, igualzinho a Salvador!
O motorista de hoje foi Otávio, vulgo Jacaré. O cara parece muito com o dançarino e dublê de humorista brasileiro. Um bom humor incrível. E acho que faz piada melhor do que a sua versão brasileira. Jacaré passou depois o comando da viatura para Fidel, mais humorado ainda. Decidi fazer um post futuro para falar da equipa (com A mesmo) de motoristas. Com tempo vou juntando as histórias desses caras.
Fidel nos levou em um local massa, chamado Caribe, na praia do Éden. É uma mistura de barraca de praia e restaurante. Boa comida!!! Finalmente! Muito legal. E não é caro. Boa opção para quem vem a Luanda. Próximo ao Caribe tem um Bob´s, um restaurante chic chamado Eldorado e uma discoteca (não pode falar boate! Boate aqui é brega!) chamada Éden. Caribe, recomendado pelo diretodeangola.blogspot.com.
Bebi uma cerveja nacional chamada Cuca. Duas longnecks, para ser mais preciso. Que cerveja forte!!!!! Fidel falou que a sigla Cuca significa “cairam uns caras aqui!”. E não tinha EKA e nem Ngola, as outras duas nacionais. Se tivesse iria experimentar. Os cervejeiros de coração foram todos invocados agora de tarde. Meu pai, tio Carlinhos, Sogra coral, Henricão, meu cumpadi e kimosabe Beto, tia Keni Panda, a galera da fazenda. Hoje também imaginei como seria a turma da casa de Cissa no Caribe. Digo, na barraca Caribe hehehe. Kau na empolgação querendo experimentar tanta coisa diferente para comer e beber. Depois fica com sono. Verônica só no copinho. Thabata rindo de tudo que é besteira e com seu inseparável iphone. Carlinhos em alta, só na Cuca. Ou na Eka.... Bala totalmente sem noção dizendo que odeeeeeia cerveja forte. Iria ser massa. Sem contar que o nosso tira-gosto brasileiro aqui é chamado pica-pau! Na lógica, o ato mecânico de pegar com o palito o petisco é a repetição do movimento de um pica-pau mesmo. Adorei isso!
Ói ela!
EEEEEEEKA!!!!
Molhei os pés no meu velho conhecido, o Oceano Atlântico. Odoyá. Saudei e pedi licença a Yemanjá, como sempre faço quando entro no mar. Atlântico. Lindo, imponente, majestoso. Estranha essa coisa de ter justamente o meu eterno playground funcionando como um muro que me separa da minha terra. Mas foi bom olhar para o horizonte e saber que fiquei mais perto de todos que amo. Literalmente. Na mente, no coração, na distância. Cantei. “Quando bate a saudade vou pro mar, fecho os meus olhos e sinto você chegar”.    
 Como estou do outro lado, naturalmente aqui o sol funciona ao contrário. No Brasil nasce no mar, em Angola se põe no mar. Não interessa de que lado, o Atlântico é a minha igreja, o meu playground, meu retiro. Estamos juntos. Sempre.
O sol caindo lá no Bahia! Do lado de lá...



The ocean is my playground. 


Um comentário:

  1. Rapaz, foi engraçado ver Celle lendo o Blog hj de manhã cedo (chorona)...
    O domingão foi na casa de Cleo hj, com a presença de Kau, Cissa, Henricão, Henriquinho, Verônica, e as crianças, na piscina.
    Rimos bastante, Verônica contou novamente o incrível caso da garota que "roda",etc.
    Ai cerveja vai cerveja vem, falamos de vc, do Blog, e novamente lágrimas generalizadas, puxadas por Henricão...
    Isso demonstra como vc é querido pelos "seus".
    Já estamos planejando o Ano Novo, com a idéia de estarmos todos reunidos, inclusive os emigrantes (vc e Neto),possivelmente alugando alguma casa de praia para aproveitarmos o fim de semana.
    HENRIQUE
    Abraço!

    ResponderExcluir