sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Linguagens


29 de outubro de 2010

Sexta-feira, dia do homem!
O diretor hoje lançou uma roupa descontraída. Confesso que a minha expectativa era encontrar algo fora do normal. Mas ele estava low profile. Polo, jeans e tênis de treking. Tudo bem que era a camisa polo. O guarda roupa básico do cara é europeu. Falo básico no sentido real da palavra, pois o que faz a diferença no estilo do Doutor é o detalhe!!!! Camisas com gola de couro, apliques estilosos, costuras de camisas e calças com linhas coloridas e em  tons diferentes do tecido, gravatas super coloridas, cintos arrojados e por aí vai. E ele tem o maior orgulho. Disse que pode ficar sem repetir uma roupa 30 dias! Até o celular dele é invocado. Tem uma capa de couro que abre como uma agenda eletrônica. O teclado fica em um lado, o display do outro. Nunca vi daquele!!!!!
Interessante o hábito de vestir, o estilo das pessoas. Um outro diretor de instituto que deu uma palestra no nosso treinamento em Luanda sacou da pasta um notebook Sony Vaio novíssimo, cor de rosa. E ele não estava nem aí. Plugou no datashow e mandou brasa.... Aquela convenção que rosa é cor de menina e azul é cor de menino aqui não vale. Hoje mesmo tinha um aluno no instituto com mochila e tênis All Star rosa. E ele não tinha nada de afeminado.
Nos mais jovens, já percebo uma certa influência do hip hop. No vestir já dá para notar alguns elementos como os bonés “aba reta”, os tênis, óculos escuros. A questão é a proximidade do kuduro com o rap. Ambas têm trechos falados, então nada mais natural do que buscar referências americanas, por conta da mídia, que aqui é media. A sacanagem é que o rapper americano não busca influências no kuduro. Se acham esses americanos..... É natural buscar esses elementos nos ídolos made in usa, mas eu não acho que fosse necessário. Musicalmente a África é muito rica, não precisava. Mas os meios de comunicação se encarregam de misturar tudo....
Ah! É bom falar que esse kuduro que andou tocando no carnaval da Bahia é falso!!!!! Adaptaram de mais..... reinventaram o que não existe.... e não mostraram o que é o kuduro realmente. Esse estilo de música e dança, segundo meus novos colegas angolanos, nasceu nos guetos e fala das realidades, alegrias, tristezas e cotidiano das comunidades. O cenário é exatamente o mesmo do hip hop. E para quem não sabe, hip hop é um movimento e não somente um estilo de música. O movimento envolve música (rap), dança (break ou street dance), grafiti e em determinadas situações skate, basquete de rua (street basket) e por aí vai. Aliás, os angolanos são bons de basquete. São decacampeões africanos!!!! E tem alguns ídolos locais jogando na NBA.
O angolano tem uma oralidade incrível. Você conversa com jovens, adultos ou idosos e percebe que eles falam português clássico, mas com menos sotaque do que o povo de Portugal. E falam corretamente. Usam as segundas pessoas (do sigular e plural) perfeitamente. Óbvio que existem termos locais que dificultam um pouco o entendimento. E se eles falam rápido não entendemos bem. Do mesmo jeito que precisamos falar um pouco mais devagar para que eles nos compreendam. Eles também têm gírias.... todos temos...  
Hoje comentava com Armindo, o motorista da província do Uige que está conosco essa semana, que acho belíssimas as roupas tradicionais das mulheres africanas. Ele me disse que acha lindo! Senti que eles se orgulham disso. Se você já viu o Ilê Ayê passar e fica impressionado com o colorido e a forma como aquelas mulheres se vestem, aqui em Angola pode multiplicar a beleza das vestes por cem, por mil. Armindo me disse que existem muitos tecidos e cada um tem uma característica. Falou que os panos que vêm do Congo são super resistentes. Que outros são mais maleáveis e se prestam a outros usos, como as mochilas para bebês que as angolanas amarram nas costas. Incrível como as crianças dormem nessa posição! Não sei porque no Brasil não se faz isso....
Falei a Armindo que vou comprar uns tecidos para levar para minha esposa. Acho que Cissa vai curtir, para usar como canga. E se comprar aqui em Mbanza Kongo serão exclusivos!!!! Ele disse: “Não, não compre cá! Compre nas estilistas em Luanda, o fato completo professor!”. Imagine Cissa no shopping de traje angolano! Iria ficar show, mas Henrique não topa esse mico hahahahaha.
Voltando a falar sobre a oralidade, notei que alguns colegas experientes tinham razão. É extremamente comum encontrarmos pessoas que se comunicam no dialeto do norte do país, o Kikongo, quando querem privacidade. Ou de sacanagem mesmo. Hoje estava na porta do banco, chegou uma menina e perguntou algo em Kikongo ao segurança e ele respondeu em português. Se eles falassem rápido provavelmente entenderia nada, ou quase nada. Mas eles fazem isso. Ela não queria que eu entendesse. Aqui no norte todos falam a língua nacional. Mas soube que próximo a Luanda e nas cidades maiores isso está se perdendo. É uma pena.  
Alguns zairenses ainda têm nomes em Kikongo! Um professor de economia que estou ajudando se chama Mikunko. Perguntei o significado, ele disse “Em Grupo”. Como uma pessoa pode se chamar Em Grupo? Depois fui entender que é hábito batizar os filhos utilizando situações, respostas, agradecimentos, homenagens. Armindo falou que no Uige tem um amigo que se chama “Dessa Vez”. A mãe do rapaz só tinha filhas. Várias. Mas continuava tentando um garoto. E sempre falava “Dessa vez é um menino”. Tá explicado né? Quando encontrar nomes diferentes, saiba que é do dialeto, e que sempre tem uma explicação. Massa isso!!!! Tradição  indígena, adoro!!! Desde muito pequeno curto essas coisas de índio....
Os colegas que estão aqui há algum tempo dizem que os alunos adoram trabalhos que possam envolver música, dança ou representação teatral. Dão verdadeiro show. Espero vivenciar isso.
E no dia do homem, escolhi adiantar o conteúdo do meu blog, arrumar o material para a próxima semana e ler um pouco. Hoje vou começar com “O Mago, de Paulo Coelho”. 

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Vou amar ir ao shopping com um traje angolano. Henrique não vai pagar mico, será um gorila!!!!!!!!!!!
    O mago não é de Paulo Coelho, conta a história da vida dele, quem escreveu foi Fernando Moraes.
    Bj

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