segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Alambamento

25 de outubro de 2010
O post de hoje é diferente. Como soube que tem gente chorando, e esse não é o propósito do diretodeangola, vamos abordar um tema polêmico – a relação homem X mulher. Em Angola, claro. E lembrem que o post é meu, a regra é minha.
Antes de sair do Brasil ouvi muita conversa, que o angolano é machista, que as mulheres aqui são muito inferiorizadas... vamos tentar entender um pouco o contexto e vai ficar mais fácil explicar algumas coisas.
Primeiro é importante que todos saibam que o país só tem 35 anos de emancipação. A festa maior deles é dia 11 de novembro, dia da independência. A cidade de Luanda já está se preparando para esse momento. O clima festivo está instalado. Só que esse processo de romper com Portugal foi muito amarrado. E a guerra terminou há muito pouco tempo.
Quem vai a guerra é o homem. E nesses conflitos muitos deles morrem. Aí começamos a perceber uma lei da economia (oferta e procura), que gera uma situação chamada pelo marketing de demanda reprimida. Se falta homem no mercado, o produto passa a ser supervalorizado. E aqui isso é muito sério.
Se faltam homens, teoricamente, sobram mulheres, correto¿ Errado!!! Os angolanos, contrariando as teorias mercadológicas, se aproveitam das prateleiras cheias de mulheres e arrumam várias!!!!!! E com elas têm muitos filhos. É comum aqui os caras terem mais de 30 filhos. Com 7, 8 mulheres. E elas não se importam. Naturalmente, são permissivas com essa inferiorização. Não lembro se já comentei isso, mas aqui casais não andam de mãos dadas, pois pode ser constrangimento se encontrarem a outra, ou outras.
Aqui, quando um rapaz deseja engatar um relacionamento sério, prá casar, ele precisa fazer um “alambamento” antes de noivar. Alambar significa dar demonstrações materiais de que suas intenções são positivas. Ele presenteia o pai da noiva com um fato (terno), a família com vinhos, paga muitas rodadas de cerveja para os irmãos, tios, brinquedos para as crianças, e quando vai noivar tem que ter uma carta de pedido de noivado, que vai em um envelope, com dinheiro dentro! Os mais ricos podem fazer alambamento várias vezes, semo problema!
Agora veja que negócio. O cara faz isso tudo, mas a noiva é o que menos importa. Aliás eles dizem que a esposa não pode e não deve ficar muito bonita, cuidada. Pode chamar a atenção, os outros vão olhar, ela pode gostar dos elogios e aí já era. O alambamento vai por água abaixo, ele tem um prejuízo financeiro enorme. A honra da família dele é toda ferida, até a primeira geração. Uma mulher de 30 anos aqui é acabada, já teve vários filhos e aparenta 60. Vale lembrar que a expectativa de vida em Angola é 42 anos.
Por isso, xingar “puta que pariu” aqui é muito, mas muito pesado. Eles entendem (e sentem no bolso) que todo o dinheiro da família foi investido em uma puta.
Que contraste com a cultura indiana, a gipsy e com a minha também! Acho que a mulher tem que estar bonita, bem cuidada. Já eles defendem que a mulher deve passar despercebida.
Comentários, por favor.
ATENÇÃO – Amanhã viajo para Mbanza Congo, meu local de trabalho nesses próximos meses. Vamos de carro, e é um pouco distante. O post de amanhã vai ficar para quarta.

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